Encontros de Coimbra
EXPRESSO Revista de 06-11-98
A Europa como paisagem
Programa europeu nos Encontros de Coimbra: inquérito fotográfico à paisagem natural, humana e social
ENCONTROS DE FOTOGRAFIA
Coimbra, vários locais (Até dia 29)
OS ENCONTROS de Coimbra aí estão de novo, na sua 18ª edição. A extensão do programa – 18 exposições, 15 locais em Coimbra e extensão a Cantanhede, 14 mostras individuais, com nove de fotógrafos estrangeiros – mantém-nos como o principal acontecimento fotográfico do ano, com uma comprovada capacidade de atracção de público de todo o país. Entretanto, confirma-se também uma continuada orientação do festival dirigido por Albano Silva Pereira, desde os «Jardins do Paraíso», em 1993, para a ideia de levantamento fotográfico das realidades naturais e humanas, associada ao tema da paisagem, mas com abertura à lógica da paisagem social, a observação de comportamentos e acontecimentos.
Sem fronteiras fixas entre os trabalhos que prolongam a tradição documental e outras produções candidatas ao campo da arte contemporânea.
«Paisagens do Quotidiano», comissariada pelo director dos Encontros, a partir da colecção do Fond National d'Art Contemporain, de Paris, mas reunindo obras de outras origens, é a exposição central do programa, marcando também a área europeia como eixo desta edição. No Museu Antropológico da Universidade expõem-se fotografias de Alain Fleisher, Claire Chevrier, Emmanuel Pinard, Florence Paradeis, Frédéric Bellay, Jean-Luc Moulène, Joseph Koudelka, Marc Pataut, Marin Kasimir, Stéphane Couturier, Valérie Jouve, Joel Bartoloméo (vídeo) e também de John Davies, Andreas Gursky, Hanna Starkey, Nick Waplington, Gabriele Basilico, Massimo Vitali, Bogdan Konopka, Johannes Backes e os portugueses António Júlio Duarte e Fernanda Fragateiro.
Outra colectiva, aborda a paisagem na tradição do panorama fotográfico, com peças da Colecção Bonnemaison e obras de, entre outros, Felice Beato, Heinrich Kuhn, Josef Sudek, Jules Etienne Marey e Puyo, na Sala de São Pedro da Biblioteca Geral da Universidade.
A lista das exposições individuais pode iniciar-se com o histórico e muito mostrado August Sander (1876-1964), fotógrafo da República de Weimar que assumiu o projecto de estabelecer a cartografia social de uma Alemanha a caminho do caos, em paralelo com a intervenção dos pintores da «Nova Objectividade» dos anos 20-30. Meia centena dos seus retratos dos «Homens do Século XX» são mostrados no átrio da Casa da Cultura.
Outro nome já clássico é Dieter Appelt, nascido em 1935, professor em Berlim, artista formado no quadro da fotografia subjectiva que orientou a prática do auto-retrato numa direcção performativa próxima de Beuys e dos accionistas vienenses, já mostrado nos Encontros de 1988 e de novo em 1996 na colectiva «Fotokunst». No Pátio da Inquisição mostram-se trabalhos de três séries, incluindo «A emancipação dos dedos» (1979) e Ezra Pound (1982).
Hannah Collins (Londres, 1956) mostra «Ao Correr do Tempo», no Antigo Refeitório do Mosteiro de Santa Cruz, um trabalho feito a partir e viagens à Polónia e à Silésia, em panorâmicas de grande formato. Do seu trabalho, também ocupado com a natureza morta, tem-se dito «que faz da banalidade uma obra complexa propícia à meditação e à reflexão».
Colum Colvin (Glasgow, 1961), que os Encontros de Braga apresentaram em 96, exibe na Igreja do Museu Machado de Castro uma instalação intitulada «Sagrado & Profano». É um especialista da fotografia construída, agora praticada com recurso à tecnologia informática, tomando por tema de trabalho obras do património histórico.
Outras exposições apresentam Lyalya Kuznetsova (n. 1946), com «Ciganos, Vagabundos das Estepes», no Museu Machado de Castro, um trabalho sobre os nómadas do Cazaquistão, na tradição dos documentários humanistas. Johannes Backes (Essen, 1958), exibe em «Estrada Nacional nº 1» uma viagem pela Alemanha reunificada, no Teatro Gil Vicente.
E ainda, no Edifício das Caldeiras, um trabalho da francesa Dominique Auerbacher (re)pensado para o lugar, sob o título «Hipocondria»; André Jasinski, nas Prisões Académicas, com «Estaleiros», concentrando-se em imagens de ruínas urbanas; enquanto François Méchain instala no Mosteiro de Celas outro projecto encomendado pelos Encontros, «Choupal», incluindo fotografia e escultura.
A programação estrangeira termina com «Sputnik», instalação de imagens da exploração espacial soviética, apresentada por uma Fundação Sputnik (?), no Edifício Chiado. <Fontcuberta?>
A presença portuguesa nesta edição é também extensa, contando com cinco individuais. Paulo Nozolino, que, entretanto, mostra na Suiça uma primeira versão do seu projecto «Solo», distinguido em 95 com o «grande prémio» da cidade de Vevey, regressa com «Nada», um conjunto de uma dezena de fotografias feitas no Alentejo, expostas na Torre de Anto.
De Alfredo Cunha, foto-repórter do «Público», exibe-se sob o título «Quatro Tempos» uma retrospectiva da sua obra entre 1972 a 1988, na Casa da Cultura. Daniel Blaufuks expõe «Uma Viagem a São Petersburgo», instalação com vídeo e som, no Colégio das Artes. Fernanda Fragateiro instalou «Hay que Detenerse y Mirarlo» no Bar de Santa Clara. Por fim, José Carlos Nascimento, com «Instambul», no Instituto da Juventude. Entretanto, a colectiva «Linha de Fronteira» alarga os Encontros a Cantanhede, com a participação de Albano S. Pereira, Cristina Garcia Rodero, Duarte Belo, Inês Gonçalves e Nuno Cera.
No próximo sábado inicia-se um programa de conferências, incluindo ainda o programa o seminário «Penser les Images», com Serge Tisseron (dias 11 a 13) e dois workshops orientados por Yvon Le Marlec («Impressão a preto e branco», dias 14 e 15) e Johannes Backes.