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«Lisboa…», um cometa, um puzzle
Publicado no catálogo da exp. "Lisboa, 'Cidade Triste e Alegre', Arquitectura de um Livro" de 2018 no Museu da Cidade (comissariada por Rita Palla Aragão)
abaixo, texto publicado no Público
Podemos falar do livro Lisboa ‘cidade triste e alegre’ como uma espécie de cometa que de x em x anos surgia de surpresa no horizonte da fotografia portuguesa, da edição e da cidade. Apareceu do nada (segundo se julgou depois) em 1958/59, em duas exposições e em fascículos, a reunir num volume - depois esqueceu-se. Voltou em 1982, na galeria/associação Ether, numa diferente exposição e com a encadernação de 200 exemplares de sobras, esboçando-se-lhe então a memória escrita nas histórias da fotografia de António Sena (1991 e 1998) - registo que exige revisões. Sagrou-se em 2004 com o aplauso internacional, quando Martin Parr e Gerry Badger popularizaram o conceito de fotolivro - a reedição em fac-símile seguiu-se em 2009. Terá sido, no entanto, Philippe Arbaizar, que em 2002 falava ainda em “livro de fotógrafo” para distinguir de livro de fotografia, o primeiro a destacar lá fora a edição de Palla & Martins - associou-a a Life is Good for you in New York, de William Klein, 1956, apontando “um sentimento urbano radicalmente diferente”, de uma “cidade suspensa no tempo, captada entre a nostalgia e um futuro improvável”, sob um título de fado (1).
O cometa passou a poder ser apreciado como um puzzle, sempre protagonizado pela figura plural de Palla, desde a sua antologia no CAM, em 1992 (o também arquitecto Costa Martins continuara a expor e editar). A diversidade da produção fotográfica de V.P. entrou no mercado com a exposição-leilão de 2008 na P4 Photography - descobriu-se a obra “heterodoxa”, antes e depois de Lisboa… Em 2009, o espaço que lhe foi dedicado na mostra "Histórias de Lisboa no Museu da Cidade” (sem catálogo, mas uma notável exposição) trouxe documentação esquecida, em texto e imagem, sobre o livro e a sua concepção. É o que agora se revê e amplia muito no Museu de Lisboa. E nesse mesmo ano o conhecimento do contexto da fotografia nacional nos anos 50 levou uma radical reviravolta na exposição “Batalha de Sombras”, como veremos.
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Em 1958/59, Lisboa foi uma operação editorial muito bem montada, que se apresentou na galeria Diário de Notícias, ao Chiado, e logo depois na Divulgação do Porto - dois lugares centrais no meio artístico da época. Teve publicidade nos jornais e repercussão imediata, em especial na revista de cinema Imagem (capa e artigo não assinado de Ernesto de Sousa, redactor principal, e outro de José Borrego, nº 34) e numa coluna de João Gaspar Simões (Jornal de Notícias, 2-11-1958), além de duas páginas do Século Ilustrado (expostas sem data em “Arquivo Universal”, Museu Berardo, 2009). David Mourão Ferreira ainda lhe dedicou dois programas na RTP em 1964 (“Hospital das Letras”).
As exposições visavam apresentar o livro de fotos com poemas inéditos que se lançava em fascículos - como era usual para obras de maior vulto ou luxo editorial -, no propósito de angariar assinantes. Não pretendiam ser exposições de fotografia, que eram raras fora da dinâmica dos salões e não disputavam lugar no escasso mercado de arte. Os autores desvalorizavam a prova fotográfica em si mesma para focar a sequência das imagens e texto, o “poema gráfico”, a “tentativa de retrato plástico usando meios fotográficos”: ”Estas fotografias não existem por si, fazem parte dum livro. Considerá-las isoladamente seria quase tão grave como admirar um a um os rectangulosinhos da película duma fita de cinema, ou como ler isoladamente cada estância dum poema” (V.P., manuscrito de entrevista). Muito mais tarde Palla ainda dirá: «deixa-me desgostoso que imagens deste livro sejam expostas de maneira convencional» (2).
A edição era uma surpresa em termos fotográficos e de design editorial, num contexto em que, por cá e lá fora, depois da reconstrução do pós-guerra, abundavam os livros sobre cidades ou regiões, mais ou menos turísticos. Um certo Frederic P. Marjay, húngaro e ex-adido cultural, lançara em 1955 a «Colecção Romântica” (Portugal Romântico e Porto e o seu distrito; Lisboa e seus arredores, em 56; Portugal e o Mar, 57, Évora, 58, etc). Artur Pastor publicou Nazaré em 1958, o mesmo ano de Os Pescadores ilustrados de Raul Brandão. De fora vinham em especial as edições da Guilde du Livre, que, aliás, chegaram a prever um volume fotografado por Sena da Silva. Em Espanha, Català-Roca publicara Barcelona e Madrid em 1954, abrindo a renovação da fotografia espanhola - mas os contactos ibéricos eram escassos.
Victor Palla multiplicava-se por actividades dispersas mas notórias, em espacial como arquitecto, capista e editor de revistas e livros (nomeadamente policiais). Expositor certo nas Gerais de Artes Plásticas (1946-56), era um dos projectistas das lojas modernas e snack-bares de Lisboa, a par de Conceição Silva e Keil do Amaral) - mas deve notar-se que era a cidade popular e mais tradicional que interessava aos fotógrafos-arquitectos e não os sinais de modernidade urbana. Uma tese académica do seu neto João Palla e Carmo reconstituiu em 2012 todo o percurso de vida e a sua versatilidade. “Compagnon” do Partido, assistiu em Moscovo às comemorações dos 40 anos da revolução russa, em 1957, e integrara em 55 a delegação à Assembleia Mundial da Paz, na Finlândia, onde, por sinal, se apresentaram “fotografias ampliadas de motivos do trabalho do povo em Portugal” (3). Seriam suas? Seriam as que mostrou na 9ª EGAP no mesmo ano? Esse pontual regresso da fotografia, com Palla, Keil e outros, foi um efeito imediato das notícias sobre “The Family of Man”? Julgo que sim. Em Espanha, o livro de Steichen «caiu como uma bomba, como vindo de outro planeta» (4).
A redescoberta de Lisboa… em 1982, na Ether, teve três efeitos principais. Na ausência de provas de época, deu a ver em 30 fotos (inéditas ou que tinham sido reenquadradas no livro) impressas de negativos integrais, numa escolha partilhada entre Sena e os autores, aquilo que tinham sido páginas ou partes de páginas. Viram-se logo a seguir em Coimbra, nos 3ºs Encontros, e foram reeditadas numa nova exposição da Ether em Serralves, em 1989. O objecto-livro de 1958/9 ía dando lugar à circulação expositiva e depois de mercado de provas que não vinham do seu tempo próprio, numa situação em parte idêntica aos casos - esses mesmo inéditos - dos fotógrafos episódicos que a Ether também revelou (imprimiu e expôs) ao longo dos anos 80: Gérard Castello-Lopes, Sena da Silva, Carlos Afonso Dias, Carlos Calvet.
Produzia-se assim uma história da fotografia em que aos autores expostos e vistos na época, esses ignorados ou desvalorizados, se substituíram os que eram invisíveis por terem apenas aproximações privadas e fugazes à fotografia, mas a quem se chamou «geração esquecida». Seriam renovadores secretos e sem consequências antes da sua exposição tardia. Quando aparecem na década de 80, já tinham surgido, também em Portugal, novas condições de criação e divulgação da fotografia, e da sua crítica, com expressão na Ether e nos Encontros de Coimbra, na revista Nova Imagem e outros meios generalistas. Era uma mudança que se consolidava com a afirmação a partir do estrangeiro (França e Holanda) de uma nova geração de fotógrafos-artistas profissionalizados como tal, protagonizada por Paulo Nozolino e José M. Rodrigues, que asseguraram trânsitos internacionais. O novo ecossistema sustentou e enraizou a notoriedade daqueles ignorados antecedentes, e beneficiou dela.
Propriamente quanto ao livro Lisboa…, a acção da Ether deu lugar à ideia de que o livro foi “praticamente ignorado”, um “fracasso editorial” com “recepção indiferente”, que “não chegou a ser um escândalo porque não teve repercussão nenhuma na sociedade da época”, etc (autores vários). É um exercício de autonegação masoquista, e é um contra-senso admirar as qualidades de inovação de um objecto e esperar um alargado acolhimento. É também uma visão anacrónica que exige ao passado condições de recepção só possíveis depois da fotografia entrar no mercado coleccionista e museológico. Prevista uma edição de dois mil exemplares, vendeu perto de metade, o que assegurou o retorno financeiro. «O livro, depois de encadernado, continuou a vender-se nas livrarias e quase se esgotou», escreveu V.P. (5).
No mesmo passo, instilou-se a ideia de deserto quanto à informação e circulação da fotografia, só cortado por cometas (ou ovnis) como o Lisboa… e antes Fernando Lemos. Este fora separado da Fotografia Subjectiva, o movimento dinamizado por Otto Steinert a partir de uma Alemanha que recuperava todos os vanguardismos condenados como degenerados ou esquecidos nos anos de guerra. J.-A. França ligou Lemos ao movimento ao divulgar a individual na Galeria de Março, mas o título e os parágrafos decisivos (“Nota sobre a fotografia subjectiva”, Comércio do Porto, 10-3-1953) foram expurgados do catálogo do CAM em 1994.
O que foi a prática fotográfica de Palla na sua continuidade só ficou a conhecer-se no leilão da P4 Photography, em especial a especulação formal praticada antes da viragem ocorrida em 1955, quando o documentário humanista viveu por todo o lado o efeito “Family of Man”. Antes privilegiava a composição em estúdio e as estéticas criativas (um "surrealista secreto», escreveu-se então). Depois de Lisboa…, em aparições tardias (1984, 86), voltou aos processos experimentais e fez manipulações cromáticas, mas tudo o que não era fotografia de rua se omitiu na antologia de 1992.
Ao contrário do alegado «pequeno universo autista» (A. Sena), o meio cultural português foi sempre atento ao que acontece “lá fora” e a informação circula, as novidades importam-se e seguem-se depressa. Chegam revistas e livros, viaja-se e comunica-se o que se traz. Ao contrário de países que têm tradições culturais próprias e fortes, e resistem algum tempo à importação de novos dados, por cá os ecos e as dependências são velozes.
O manifesto-convite que o MoMA e Steichen dirigiram aos fotógrafos do mundo inteiro foi publicado em Março de 1954, por extenso, na coluna sobre salões da revista Fotografia - «A Família do Homem» era um concurso diferente, sem júri e sem prémios, itinerante. Em 1955 a fotografia regressou à Exposição Geral na SNBA (com Keil e Cabrita), onde não cabia desde 1950 (Keil e Lyon de Castro). Em 1956 começaram a recolha de fotografias para o livro Lisboa… e o inquérito à Arquitectura Popular em Portugal (publicado em 1961). Também em 56 a Casa da Imprensa promoveu a 1ª Exposição de Repórteres Fotográficos (salão único).
G. Castello-Lopes falava do “asfixiante academismo dos salões”. De facto, os anos 50 foram animados nos círculos da Arte Fotográfica, quebrando-se o elitismo do velho Grémio com a actividade de foto-clubes, grupo Câmara de Coimbra, 6x6 em Lisboa, a Associação do Porto. Faziam boletins e exposições próprias. Publicaram-se revistas (Plano Focal e Fotografia), além da página de divulgação do Jornal do Barreiro (1954-57), extensão do salão do Grupo Desportivo da CUF, o mais activo, onde se afirmaram Augusto Cabrita e Eduardo Gageiro e ainda se premiou Adelino Lyon de Castro. Gérard compareceu no de 1957.
Na exposição «Batalha de Sombras», em 2009, organizada por Emília Tavares (produção do Museu Chiado no Museu do Neo-Realismo, de Vila Franca de Xira), descobriu-se com surpresa a diversidade e a qualidade das práticas fotográficas desses anos, nas vertentes naturalista e neo-realista e na via do esteticismo formalista e purista. Fazia-se bem, num meio pequeno e opressivo, mesmo se faltavam os génios. Faltou também a dinâmica associativa que em Espanha convergiu na AFAL, sediada na periférica Almería.
O livro Lisboa… surgia como um cometa: «Tínhamos visto um livro do William Klein sobre Nova Iorque e achámos que seria interessante fazer um livro sobre Lisboa. (…) Teria de ser um livro diferente.» (6)
Às voltas por «Lisboa…»
Público, 22.06.2018
Quando Martin Parr e Gerry Badger inventaram o nome foto-livro atribuíram a Lisboa ‘cidade triste e alegre’ o destaque máximo de duas páginas inteiras. Foi em 2004, logo no primeiro volume de The Photobook: A History. Martin Parr, o grande fotógrafo e coleccionador inglês, que hoje é presidente da Magnum, era presença frequente em Portugal, especialmente em Braga por via dos Encontros da Imagem, e o livro de Victor Palla & Costa Martins tinha sido apresentado e redistribuído em 1982 por António Sena. As fotografias dos dois arquitectos, de autoria indistinta, apresentaram-se na sua galeria/associação Ether Vale Tudo Menos Tirar Olhos, e logo em Coimbra. Foram levadas a Serralves em 1989 e à Europália portuguesa (a Charleroi) em 1991, acompanhadas por uma primeira tentativa de história da fotografia - a sua edição ampliada é de 1998, há muito esgotada. Foi um ciclo que deve ser recordado e rectificado (aponto algumas pistas no texto escrito para o catálogo do Museu de Lisboa).
Em 1982 o livro estava esquecido? Era ignorado? Não será exacto dizer isso. Existia nas estantes de arquitectos e outros intelectuais, mas não havia ainda memória nem cultura fotográfica fora de reduzidos círculos de apreciadores. A fotografia não entrara nos museus e galerias, não se coleccionava. Nos inícios dessa década de ’80 a condição (divulgação e produção) da fotografia estava a mudar bruscamente, com os Encontros de Coimbra e com a Ether, a revista «Nova Imagem» e a chegada da crítica da especialidade à imprensa generalista. A fotografia acedeu então à área da cultura geral, a concorrer com as artes «plásticas».
Por feliz coincidência mostraram-se as fotografias de Martins & Palla ao mesmo tempo que as de Fernando Lemos, estas na exposição «Refotos», na SNBA, como prolongamento da revisão dos Anos 40 em curso na Gulbenkian. Em ambos os casos foi uma surpresa para os novos públicos (pós-modernos) que chegavam, e assim se dotavam de um prestigioso passado (moderno). Do novo contexto fotográfico fazia parte a afirmação de uma primeira geração de fotógrafos artistas a trabalhar lá fora, Paulo Nozolino e José Manuel Rodrigues, os quais traziam a Coimbra os seus contemporâneos e internacionalizavam os Encontros. E a novidade continuou então na Ether com a apresentação de uma geração perdida, que também fotografara nos anos 50 mas deixou inédito o seu exercício de amadores elitistas, arredados dos foto-clubes e salões desse tempo (Castello-Lopes, Sena da Silva, Carlos Afonso Dias, Carlos Calvet).
Em 1958/59 o livro foi lançado em sete fascículos, o desafio dos 2000 exemplares (!!) promoveu-se em duas exposições em lugares centrais de Lisboa e Porto, Diário de Notícias e Divulgação (eram livrarias-galerias), teve publicidade e boas críticas na imprensa, vendeu mais de metade da edição. Com as suas características originais, ou melhor, irreverentes, quanto à fotografia e ao design editorial, não podia ser um êxito de massas, mas não se pode dizer que tenha sido um insucesso, como se passou a repetir quando o livro foi descoberto por novos públicos.
Costa Martins era um arquitecto discreto, que continuou activo como pintor e fotógrafo. Victor Palla era uma figura pública, activo em múltiplas áreas: arquitecto de lojas modernas (os snack-bars, como o Pique-Nique; projectista das vivendas a sortear pela «Eva» do Natal, esse caso insólito entre os magazines da época), tradutor-divulgador de policiais (O Gato Preto), editor (Os Livros das Três Abelhas), capista reconhecido (Arcádia), activista cultural e notório «compagnon de route» do PC… Teve presença certa e multidisciplinar nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAP), em 1947-56, e aí mostrou fotografias só uma vez, 1955 (com Keil do Amaral, Augusto Cabrita e outros).
Lisboa… é uma obra única no contexto fotográfico e editorial nacional, vinda de um tempo em que se faziam bastantes livros sobre cidades e regiões, também entre nós. Parr e Badger apontam-no como um dos melhores photobooks sobre cidades europeias publicados no pós-guerra, e também como um dos mais complexos. Um dos aspectos marcantes é o modo como os autores expõem uma actualizada informação sobre fotografia, num extenso Índice narrativo, erudito e dialogante. Sucedem-se aí as referências a autores e magazines internacionais, e as citações multiplicam-se até às badanas. Ao contrário do que se diz, chegava cá toda a informação e, na falta de fortes tradições próprias, o meio cultural foi sempre ávido de exemplos cosmopolitas.
A aproximação do Lisboa… à Nova Iorque de William Klein (Life is Good and Good for You in New York, 1956) foi feita por Philippe Arbaïzar, certamente o primeiro estrangeiro a elogiar o livro (revista do Centro Pompidou, «Les Cahiers…», 2002). Associavam-nos «os recursos da paginação de que se serviram os autores para comunicar um sentimento urbano radicalmente diferente», «como um monumento a construir em homenagem a esta cidade, a um momento da sua história» - sob um título que «soa como um fado». Parr e Bagder apontam, além de Klein, os modelos, mais improváveis, dos holandeses Ed van der Elsken e Joan van der Keuken, referindo a «cornucópia de estratégias de design» usadas com êxito pelos nossos autores.
Antes de mergulhar nas ruas da Lisboa antiga e popular, numa aproximação neo-realista (para usar a fórmula comum à Espanha e a Itália), Victor Palla fez fotografia experimental, alinhada, tal como a de Fernando Lemos, com as especulações formais vanguardistas animadas pelo movimento da Fotografia Subjectiva de Otto Steinert. Essa produção só foi exposta por ocasião do leilão do seu espólio pela P4 Photography, em 2008.
Pode pensar-se que a viragem para a fotografia de rua, documental e poética, presente já em 1955 na 9ª EGAP, e continuada no projecto de Lisboa…, surgido em 1956, tinha origem na vaga humanista gerada pela exposição «The Family of Man» de Edward Steichen no MoMA, que começou por ser anunciada como um concurso mundial e que se divulgara com destaque nas páginas da revista «Fotografia», logo em 1954. Chegavam as notícias da «Life», os ecos da digressão mundial, o catálogo e o filme da exposição. A crítica de Roland Barthes e as reflexões sobre propaganda e ideolog
ia vieram a seguir.
A «Família do Homem» e a Nova Iorque de Klein, que já era Pop, divergentes entre si, não são referidos no Índice, mas são as balizas que há que conhecer para situar o livro e o apreciar melhor.
Posted at 13:27 in 2018, fotografia, Fotografia portuguesa, Victor Palla & Martins | Permalink | Comments (0)
Jorge Guerra no Arquivo Fotográfico de Lisboa (09-04-2019). "Saudade de Pedra" (Lisboa, 1966 - mais precisamente, de 20/12/1966 a 5/01/1967 - 100 fotografias impressas pelo autor e adquiridas pelo AF em 1998). Exposição e livro, com texto de Jorge Calado.
Jorge Guerra com José Luís Neto (09/04/2019)
As fotografias de Jorge Guerra não foram divulgadas no seu tempo próprio, mas são um marco essencial dos anos 60 (1966), enquanto retrato da cidade no fim do regime de Salazar (seguir-se-ia ainda Caetano por mais alguns anos) e enquanto obra fotográfica - editada em livro em 1984, 1994 e 2019, agora em boas condições, sucede à Lisboa de Costa Martins e Victor Palla. Permanecendo secreta por muitos anos e discretamente divulgada (até esta exposição maior no Arquivo Fotográfico), Jorge Guerra ficou numa situação próxima - até hoje - de fotógrafo confidencial, como aos membros da tertúlia de Castello-Lopes, Sena da Silva, Carlos Calvet e Carlos Afonso Dias. Na história da fotografia em Portugal são muitos os autores secretos e alguns outros expuseram e/ou publicaram em vida mas ficaram numa espécie de limbo feito de ignorância e menosprezo, como Adelino Lyon de Castro e Maria Lamas, Artur Pastor, Augusto Cabrita, Gageiro. Ou os mais antigos Lacerda Nobre e Álvaro Colaço, Elmano da Cunha e Costa e os homens dos clubes 6x6 e Câmara.
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1994
“Mandados Oblíquos”, Casa Fernando Pessoa
Expresso Cartaz - 9 Out.
Jorge Guerra, 1966 (Col. Fundação Gulbenkian)
A. Um projecto fotográfico dos anos 60 reapresentado com extractos da «Ode Marítima» e editado num livro-catálogo. Usando a tele-objectiva e percorrendo em especial a zona ribeirinha, Jorge Guerra constrói um dos mais melancólicos retratos de Lisboa, fixando corpos e rostos por onde passa toda a inquietação dos anos da guerra e do exílio.
B. As fotografias de Jorge Guerra expõem-se associadas a extractos da «Ode Marítima», e também se editam num livro-catálogo sob o mesmo título: “Mandados Oblíquos”. Esta colagem temerária, que as imagens da Lisboa ribeirinha plenamente justificam, vem, aliás, renovar uma outra ligação poética que algumas destas mesmas fotografias já estabeleceram com a escrita de Ruy Belo e de João Miguel Fernandes Jorge num álbum quase desconhecido, “Os Poucos Poderes”, publicado pela Gulbenkian em 1984, embora planeado em 1972. Em qualquer dos casos ter-se-á tratado de assegurar assim a visibilidade de fotografias que têm, porém, em si mesmo inteira autonomia.
Realizadas em Lisboa durante a década de 60 (entre 66 e 68?) e ainda em grande parte inéditas — duas delas puderam ser vistas na exposição «Encontros com Narciso», em 1989, no CAM, e outras mais foram mostradas na Europália’91, por António Sena —, constituem mais um elo numa história só lentamente revelada e, em geral, depressa esquecida. Depois da “Lisboa…” de Victor Palla e Costa Martins, esta é uma outra viagem à procura da identidade de um país e também, através dele, de um destino pessoal, na demorada impossibilidade de uma plena existência colectiva.
É à beira rio, do Cais das Colunas ao Alto de Santa Catarina, diante da moldura aberta dos lençóis de água, mais rasgada ainda pelo uso permanente da tele-objectiva, que Jorge Guerra inquire os rostos e os corpos espectantes de uma cidade ao mesmo tempo íntima e absurda. Os anos eram então negros e os cais lugares de embarque para as Áfricas; Jorge Guerra, «cumprida» a sua guerra de Angola, voltava de Londres a uma Lisboa inabitável e assim se despedia para iniciar um longo exílio no Canadá, onde fez fotografia e cinema. <E onde dirigiu durante 15 anos, com Denise Guérin-Lajoie, a mais importante revista de fotografia do Canadá, a OVO.>
Algum «cinema novo» era vizinho deste mesmo olhar e, pela mesma época, o americano Neal Slavin (ver «Portugal 1968», edição Fotoporto 1990) traçava outro retrato implacável. Na breve história da fotografia moderna portuguesa, de que Jorge Guerra é uma das pedras definitivas (e um dos poucos que ultrapassaram a fase do amadorismo promissor), estas serão as mais pungentes imagens de nós mesmos. Mas se a melancolia domina estas imagens de gente solitária frente ao infinito, uma outra estranheza inquietante deve sentir-se perante a prolongada ocultação que as manteve até agora quase inéditas.
C. Edições e exposições com catálogo
Os Poucos Poderes, Fotografias de Jorge Guerra, Fund. Gulbenkian, 1984
Encontros com Narciso, Fotografias de Jorge Guerra, Fund. Gulbenkian, 1989.
Mandados Oblíquos, Fotografias de Jorge Guerra, Casa Fernando Pessoa, 1994
Jorge Guerra - Quarenta Anos de Fotografia, CCB 2000. (Ver entrevista de Celso Martins, Cartaz Expresso 12-02-2000)
1999
OVO Magazine, Montreal 1972-1988.
Expresso, Cartaz (Actual) 27-11-99
O FOTÓGRAFO Jorge Guerra faz hoje, no Arquivo Fotográfico de Lisboa, uma apresentação audiovisual do «Magazine Ovo», que dirigiu durante anos em Montreal, traçando também uma breve história das revistas internacionais de fotografia. Em exposição para consulta, uma colecção completa da revista, e alguns números, hoje raros, poderão ser adquiridos.
Editado e dirigido por Denyse Gérin-Lajoie e Jorge Guerra, o «Magazine Ovo» foi uma influente revista de fotografia que se publicou a partir de 1972 em Montreal ao longo de 15 anos, tendo desempenhado um papel relevante no desenvolvimento da cultura fotográfica do Quebeque, com efeitos na dinâmica cultural e política da região.
A revista seguiu um modelo original de publicação temática e documental que viria a ser vítima de fracturas resultantes da própria expansão das práticas fotográficas, até pôr termo, em 1988, às suas actividades e encerrar a galeria que fundara, em consequência de dificuldades económicas.
O seu último número contou com a colaboração de 70 fotógrafos internacionais, de Abbas a Joel-Peter Witkin, passando por Alvarez Bravo, Avedon, Boubat, Burri, Callahan, Cartier-Bresson, Larry Clark, Roy DeCarava, Sebastião Salgado, Jerry Uelsmann, Burk Uzzle, Joan van der Koiken, etc. A revista afirmava então defender «a fotografia como um médium essencialmente democrático que oferecia um meio simples e não sofisticado de registo, comunicação e expressão», colocando-se «em contra-corrente da política do 'savoir-do-dia' e de uma pretensa vanguarda que julga fazer avançar a história da arte mudando de estilo ao sabor dos ventos».
Também fotógrafo, Jorge Guerra publicou nomeadamente «Os Pequenos Poderes» em 1984, com fotografias de finais dos anos 60 e poemas de Ruy Belo e J.M. Fernandes Jorge (ed. Gulbenkian) e expôs «Encontros com Narciso» em 1989, também na Gulbenkian.
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Tags: Jorge Guerra, Magazine OVO
9 Dez 2013: https://apomargaleria.blogspot.pt/search/label/Panorama
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Aproximação a Panorama: uma nota de 8 Dez 2013 por ocasião de
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Em 1947, quando Maria Lamas dá início às suas viagens pelo país para a publicação de 'As Mulheres do Meu País', tem 53 anos, e fora até há pouco directora de 'Modas e Bordados', jornalista e romancista. "Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa", lê-se numa notícia publicada no boletim 'Ler - informação bibliográfica', Publicações Europa-América (Maio-Junho 1948, pág. 1
"A obtenção de fotografias, confessa, foi uma das maiores dificuldades que encontrou, pois queria-as ‘verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas’. Acabará por assumir-se como repórter fotográfica, num trabalho pioneiro" – 'O Primeiro de Janeiro', Porto, 28 de Abril de 1948 (entrevista na pág. "Das artes e das letras").
Os seus inúmeros retratos de mulheres devem ser vistos como uma grande aventura fotográfica, com um sentido de documentário social, de denúncia e de esperança ou optimismo que tem de ser associado ao neo-realismo, como uma contribuição muitíssimo original (o neo-realismo nunca teve fronteiras conceptuais fechadas e pode/deve ser identificado como tal, ou como aproximação a, sem que os autores dele se reclamem).
Herdeiras de uma prática fotojornalística recorrente - o retrato individual que acompanha as notícias - , as fotos de ML têm uma verdade e uma energia contagiantes, que desde logo decorrem e comungam da situação concreta do inquérito e do voluntarismo da autora. Toda a ambição esteticista ou artística está ausente: são documento e testemunho, tanto das mulheres encontradas no terreno como na atitude da autora. Nunca foram expostas até aos anos 2000 (e seguramente não foram pensados como objecto de exposição, ou colecção, ou edição autónoma), e nem mesmo foram incluídos ou referenciados, ao que julgo, nas exposições documentais tardias sobre Maria Lamas.
Não referidos por António Sena na sua história, permaneceram como material não visto, não reconhecido, não valorizado, ignorado pelo neo-realismo oficial (o das EGAP de 1946 a 1950...) e também, naturalmente, pelos meios da "arte fotográfica", em que também o neo-realismo penetrou (Lyon de Castro, Cabrita e outros). Não um não-dito da fotografia portuguesa, que por vezes continua a incomodar quem se rege por etiquetas e não por dados visíveis.
São na maior parte das vezes retratos individuais e também de grupo. Retratos directos e frontais realizados nos locais de trabalho, como que interrompendo momentaneamente a faina. Noutros casos são mesmo momentos ou situações de trabalho que se ilustram, procurando registar a dureza do esforço físico. Totalmente despidas de efeitos de luz e sombra, feitas sob o sol directo e cru, as imagens prescindem também de toda a anedota ou nota de mistério, à beira de uma impressão de banalidade que se desmente na cumplicidade dos olhares trocados, na firmeza, confiança ou dignidade dos rostos, na eficácia documental das roupas, utensílios e outros objectos visíveis, numa objectividade enxuta e tocante. A banalidade, o banal (a suspensão da arte), é um tema essencial da prática e da teoria fotográficas, que se manifestara uma década antes durante a "polémica do flagrante" e foi tendo sucessivos afloramentos (Walker Evans, a Pop, etc)
Cada fotografia é acompanhada por várias linhas de texto que ultrapassam a condição de simples legendas para fornecer informações complementares e comentar o contexto económico e social de cada situação.
Realizadas por um fotógrafo-não-fotógrafo (nem profissional, nem "amador", no sentido habitual de aficionado da arte fotográfica), que apenas por necessidade recorreu por algum tempo a um "caixote Kodak", estas fotografias suplantam o interesse das restantes imagens do livro, assinadas por um heteróclito grupo de outros autores. Essa outra muito vasta antologia fotográfica documental que ML escolhe e inclui no seu livro comprovam a forte relação com o medium (com o acesso a importantes acervos e o relacionamento com fotógrafos, ou seja, uma cultura fotográfica assinalável) para além da produção própria.
No seu recente livro (Maria Lamas, Mulher de Causas - biografia breve, ed. Município de Torres Novas <corrijo o lapso>, 2017) e nos comentários que deixou escritos numa nota abaixo (facebook), José Gabriel Pereira Bastos acrescenta informações essenciais para se perceber o contexto ideológico e político, profissional e pessoal, da obra de M.L.
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À esq. fotografia de Sena da Silva: Elevador, Lisboa, 1956/57 (impressão de António Paixão), prova de época, nº 36 do catálogo "Uma Retrospectiva", Fundação de Serralves / Fotoporto; comissariado de Anrónio Sena / ether.
A direita, fotografia atribuída a Sena da Silva na exp. "Uma antologia fotográfica", apresentada pela CML na Cordoaria, comissariada por Sérgio Mah.
É injustificado o uso do negativo integral, o quadrado próprio da Rollei, no caso de um fotógrafo que usou regularmente os reenquadramentos, e assim se transforma a excelente imagem da esq. numa fotografia banal, ao alcance de qualquer turista preguiçoso e descuidado. Conhecendo-se uma prova de época deixada pelo autor e exposta em vida, a opção é ignorante, além de preguiçosa e descuidada. O autor interpretou o seu negativo, criou uma fotografia. Uma reimpressão integral do negativo é também uma interpretação, mas errada, é o falsear de uma fotografia - é a produção de um falso. Este é um caso de polícia. Os exemplos idênticos sucedem-se no caso de várias fotografias de referência de Sena da Silva, e as outras fotos (num total de 200!) são em geral anódinas ou meras curiosidades que atentam contra a importância da obra do autor.
A exposição deve ser encerrada e o comissário pelo menos despedido, se nenhuma entidade responsável o quiser ou puder acusar de atentado aos direitos de autor.
Sena da Silva maltratado numa exposição de restos : versão extensa com mais exemplos comparativos entre as fotografias de Sena da Silva e as novas versões falseadas.
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O Luiz Carvalho escreveu na sua página do fb sobre o que escrevi sobre o Sena da Silva. É um curioso contributo para a história da cultura fotográfica actual (com memórias dos anos 80/90.) Transcrevo:
"Discordo completamente com* o Alexandre Pomar.
A exposição do Sena da Silva que o Sérgio Mah editou é de uma notável qualidade de edição e produção. Não são fotografias de época, são fotografias recuperadas e muito bem impressas, cuidadosamente impressas.
Tenho
alguma autoridade para o dizer, mais certamente do que o Alexandre
POmar que fez uma vida a escrever sobre artistas plásticos alternativos e
que muito recentemente descobriu as maravilhas da fotografia.
As
discussões que tivemos, nos anos 80-90, no sótão do Expresso entre ele,
o Rui Ochoa, o António Pedro Ferreira e eu, terminavam aos berros
porque o Alexandre Pomar, que prezo e por quem tenho amizade, mostrava
sempre falar de fotografia com critérios diferentes da linguagem
fotográfica. Sempre olhou para a fotografia como se fosse uma montagem
de um desses artistecos pós-modernos.
A
imagem original em causa é muito melhor, tem espaço à direita que lhe
dá profundidade e põe a dialogar espaços diferentes, e valoriza a
perspectiva. A imagem original não respira, está truncada, embora
evidencie as verticais que transformam a cena numa jaula.
Mesmo
que se possa discutir a apresentação do enquadramento original numa
prova que o autor cropou, acho que o critério de respeitar o formato
original, quadrado, 6x6, da Rolleiflex, acaba por valorizar tudo o que
Sena da Silva viu.
Agora é natural que algumas vozes se levantem contra esta exposição.
O
filho António Sena da Silva, que nos anos oitenta se quis afirmar como o
mentor da fotografia portuguesa, outro artista plástico que apanhou a
Leica do pai e começou a fotografar, sem talento nenhum, um fotógrafo
falhado que Alexandre POmar promoveu no Expresso** como "crítico
fotográfico", o que só dá vontade rir, deve estar incomodado com a
excelente exposição.
ASSilva
foi nos últimos anos indiferente à obra do pai e este espólio pertence à
viúva, a sua ( dele Sena da Silva) segunda mulher.
Os lobbies agitam-se.
Parabéns ao Sérgio Mah, uma pessoa séria e de grande talento. Este sim um bom mentor da fotografia.
Todos a ver a exposição.
Vai haver uma edição especial do FOTOGRAFIA TOTAL sobre SEna da Silva."
* Deveria ser Discordo de...
** No Expresso também "promovi" Pedro Miguel Frade e Jorge Calado, na área da crítica de Fotografia. Sobre o fotógrafo em causa, o texto dereferência continua a ser" Sena da Silva: viagem ao passado", de Jorge Calado, Expresso/Revista de 23/Maio/1987, pág. 56R.
Comentário agradecido:
Passando
sobre os comentários anedóticos (" Sempre olhou/ei para a fotografia
como se fosse uma montagem de um desses artistecos pós-modernos"), o que
importa é a apreciação das duas imagens reproduzidas : a obra de
Sena e a variação sobre ela que
o comissário se autorizou fazer, reinterpretando o negativo de outro
modo - o que tem a ver com a apreciação formal e estética e também com a
consideração da legitimidade ou não do uso arbitrário de um negativo
por outrem que não o autor, em especial quando se conhece a intenção e a
obra original desse autor/artista, quer numa prova de época quer numa
reprodução tipográfica. Ou seja, sobre a obra de Sena e a atribuição da
mesma autoria a uma outra e diferente obra, o que entra no domínio da
produção de falsos.
"A imagem original em causa é muito melhor, tem espaço à direita que lhe dá profundidade e põe a dialogar espaços diferentes, e valoriza a perspectiva. A imagem original não respira, está truncada, embora evidencie as verticais que transformam a cena numa jaula."
L.C. chama certamente por lapso "obra original" à impressão recente (póstuma) quando a obra de Sena da Silva, a obra autêntica e original, a única legítima, é aquela de que ele orientou a produção no laboratório de António Paixão. É revelador de um entendimento particular (que se diria pré-moderno, ou naif, ingénuo) a preferência pela versão póstuma que "valoriza a perspectiva" (porquê o valor perspectiva se há outros valores escolhidos, no caso a quase frontalidade de parte do elevador?), com a mulher à janela e a sequência tripla das três janelas das casas, por onde se distrai o olhar e dilui o ritmo das janelas do elevador: com o quarto degrau que constitui o passeio oblíquo, desagrega-se a tensão geométrica e formal encontrada no elevador "cropado". Note-se tambéma importância atribuída à "respiração", o uso da palavra "truncada" e o comentário final que poderia abrir uma porta (uma janela, no caso) para o entendimento da obra em causa: "as verticais que transformam a cena numa jaula". Mas o L.C. é que é professor e crítico, e conhece os "critérios da linguagem fotográfica", os autênticos.
Além de tudo o resto, que tem a ver com o excercício do olhar e com o bom senso, o culto ingenuamente devocional "à Cartier-Bresson" do negativo integral não se aplica aqui, como em geral acontece quanto aos utilizadores da Rollei: o quadrado é para recortar num segundo reenquadramento tão legítimo ou mais do que o primeiro, a fotografia é feita no laboratório e em especial no ampliador (e como é do saber corrente o negativo é uma partitura a interpretar - por exemplo, uma obra para violino passada para piano chama-se uma transcrição).
Em tempo:
"Os lobbies agitam-se.
Parabéns ao Sérgio Mah, uma pessoa séria e de grande talento. Este sim um bom mentor da fotografia."
Luiz Carvalho fala por si e identifica-se como um lobbie, ou com o lobbie do S.M. - mas já não há lobbies. O panorama crítico e teórico sobre a fotografia decaiu muito desde que esta se especializou no sistema universitário. Os actuais professores não tiveram mestres - o que se sucederá a tais professores?
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António Meneres foi um dos arquitectos envolvidos no levantamento fotográfico exaustivo que se chamou Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, organizado pelo então Sindicato Nacional dos Arquitectos com algum apoio oficial (1955-1961) e que conduziu à edição do livro Arquitectura Popular em Portugal. Era então um muito jovem finalista de arquitectura, e integrou o grupo que percorreu a Zona 1, do Minho a Coimbra, com Fernando Távora e Rui Pimentel (também pintor, o “Arco” do neo-realismo inicial). Fotografava desde os 8 anos e continua a fotografar aos 80. O livro colectivo é uma das poucas obras-primas da fotografia portuguesa, também pela paginação e, claro, pela investigação que aí se documenta.
Dos fotógrafos-arquitectos participantes, julgo que, antes e depois, só três expuseram como fotógrafos, em mostras colectivas e individuais: Keil do Amaral (em duas edições das Exposições Gerais e postumamente em 1999), Nuno Teotónio Pereira (2004) e o próprio António Menéres, que tem sido, em anos recentes, uma das grandes memórias vivas e um dos divulgadores do Inquérito - mas sem se deter no saudosismo e sem pousar as câmaras. Passados 50 anos continua a faltar uma exposição e um estudo alargado sobre o Inquérito, o seu espólio e os seus fotógrafos.
Menéres continuou a usar a fotografia para estudar e deixar registada a arquitectura anónima, popular, tradicional ou vernácula, aquela que ao longo do tempo foi respondendo à necessidade de construir com os materiais próprios dos lugares, usando soluções validadas pelo uso, adequadas aos climas e certas com as paisagens - as que foram também construindo as paisagens humanizadas que conhecemos. É um trabalho levado a cabo com os seus meios próprios, revisitando o seu arquivo pessoal e profissional, mas continuando a sair para a estrada para fotografar, que se prolonga numa incansável vontade de expor. A longa actividade e intervenção profissional dedicada ao património permite-lhe construir as exposições e as edições possíveis com abordagens sistemáticas e comentários criteriosos.
Fotógrafo da arquitectura e das tradições populares, Menéres usa a fotografia. Talvez um dia reveja o seu acervo para se interrogar enquanto fotógrafo-artista, o que não é uma diferente identidade mas apenas um outro modo de seleccionar as suas provas de exposição. Pode dizer-se que faz uma fotografia também vernácula, como uma prática instrumental e aplicada onde importa em primeiro lugar o registo documental e informativo. Sabemos que - para além de algumas raras obras - são as fotografias úteis que melhor ultrapassam o seu tempo próprio para nos surpreenderam com o registo do que foi muitas vezes perdendo a sua referência documental. Sem ser preciso falar de Walker Evans, lembre-se que um dos grandes impulsos dados à fotografia aconteceu (também) nos anos 50, quando os novos fotógrafos espanhóis se propuseram "esquecer a palavra arte por um tempo", como disse um deles, Oriol Maspons (citado por Horacio Fernández, Variaciones en España. Fotografia y arte 1900-1980, ed. La Fábrica, 2004). A grande diferença pensinsular é que Maspons o escrevia no próprio boletim "Arte Fotográfico" da Real Sociedad Fotográfica, em 1957. Em Portugal, os arquitectos fotografavam mas mantiveram-se à margem das agremiações de fotógrafos, a partir das quais (e contra elas) se fez em muitos países a ruptura moderna.
4 Março 2013 (revisto)
Posted at 10:18 in Arquitectura, Fotografia portuguesa, Fotografos | Permalink | Comments (0)
Um photobook de 1938, Luanda/Porto: 2º episódio (começou aqui)
Exposição-Feira de Angola, 1938 / Álbum comemorativo da exposição-feira de Angola. Luanda XCMXXXVIII ( 6 e [144] p.). Fotografia (clichés): C. Duarte (Firmino Marques da Costa, n. 1910-?). Reprodução e impressão "Offset" da Litografia Nacional do Porto
Chefe dos serviços técnicos (plano geral e arquitectura?): funcionário aduaneiro Vasco Vieira da Costa, "artista de elevado merecimento" (sic)
desenhado com a luz
Informações
com público
com indígena (e arte)
montagens e composições fotográficas
Fogo de artifício (a última fotografia)
Alvão em 1934 e Mário Novais em 1940 não fizeram melhor.
Será que os negativos estão nos arquivos de Luanda ou foram parar à Torre do Tombo, via Agência Geral do Ultramar, ou perderam-se? (De qualquer modo estas impressões em "offset" de 1938, mesmo com trama, são provas de exposição...)
A exp. esteve aberta de 15 de Agosto a 18 de Setembro de 1938, e segundo o álbum oficial "foi visitada por setenta mil pessoas, aproximadamente". Foi realizado um "minucioso documentário cinematográfico" pela Missão Cinegráfica às Colónias Portuguesas.
Bibliografia: José Manuel Fernandes, Geração Africana, Arquitectura e cidades em Angola e Moçambique, 1925.1975, Livros Horizonte, Lisboa 2002, p.85.
Rui Afonso Santos, texto sobre Art Déco em Portugal, no catálogo Art Déco – Colecção Berardo, What a Wonderful World!, Casa das Mudas, Madeira, 2010/11.
Existe 1 exemplar do álbum na Biblioteca Nacional (em processamento - ?), outro no CIDAC, mais um na Biblioteca da Universidade de Coimbra (estes dois indicados no portal Memória de África). Existe tb na Sociedade de Geografia de Lisboa (não se encontrava registado na base de dados), e entreguei um exemplar na Biblioteca de Arte da FG, ainda sem entrada no Catálogo - nota de Fev. 2013)
Várias centenas de fotografias de reportagem e de documentação da autoria de Firmino Marques da Costa encontram-se no Arquivo Científico Tropical (ACTD) do Instituto de Investigação Científica Tropical (Visita Presidencial de Américo Tomás a Cabo Verde e Guiné Bissau, em 1968, oriundas da Agência Geral do Ultramar) e no Arquivo Fotográfico de Lisboa COL FMC - Firmino Marques da Costa Âmbito cronológico:1940-1960 (Acessibilidade: disponível on-line)
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Tags: José Manuel Fernandes, Marques da Costa, Rui Afonso Santos, Vasco Costa, Vasco Vieira da Costa
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Tags: António Lopes Mateus, António Sena, C. Duarte, José Manuel Fernandes, Marques da Costa, Vasco Vieira da Costa
Não é um livro de fotografia. Não é "sobre" fotografia, ou arte fotográfica, ou arte em geral (?). É sobre geografia humana, urbanismo, arquitectura. É um ensaio, uma obra de investigação. Mas é um livro de fotografias, um livro fotográfico, um photobook. E não é uma novidade (saiu no início de 2010, e teve lançamentos divulgados), mas só agora o vi, na inauguração da STET, livraria-galeria por enquanto aberta no BES-Arte & Finança, ao Marquês (e aquele verde tem de atravessar-se, antes de se instalar no Chiado).
Álvaro Domingues, A Rua da Estrada, col. "Equações de Arquitectura" nº 44, Dafne Editora, Porto, 2010, 260 págs.
Há algumas páginas cheias só de texto impresso, muito poucas, e uma ou outra dupla página ocupada por uma só fotografia, mas a regra é que as fotografias, duas ou três por plano, rapidamente legendadas (mas não localizadas ou identificadas), sejam acompanhadas por breves análises que as fotos documentam ou por comentários sugeridos pelas imagens. Não são ilustrações. A escrita explora a imagem, e esta interpela e regista o que foi sendo visto na Rua da Estrada.
O que se observa e interpreta é a transformação da paisagem, a mudança da estrada rural em estrada urbanizada (desurbanizada?), em rua semi-urbana, onde os mais diversos comércios disputam a atenção do automobilista ("O problema é fazê-los parar" aparece como subtítulo ou epígrafe - e terá certamente mais do que uma leitura). É a urbanização espontânea da periferia, entre as cidades do Norte litoral. O crescimento, o progresso.
As fotografias são feitas da estrada ou da beira da estrada, muitas delas presumivelmente de dentro do automóvel, de um ponto de vista sempre mais ou menos oblíquo (há algumas raras imagens frontais), incluindo um pedaço da via, ou só do passeio, se ele existe. Planos gerais, com poucos ou nenhuns transeuntes (ou populares). Pelo Minho, pela Trofa, Paços de Ferreira, Paredes, o Vale do Sousa, a N 15, em locais às vezes identificáveis pelas placas de sinalização, tabuletas e anúncios comerciais, mas também por vezes abaixo do Douro e isoladamente no Alentejo.
Posted at 12:07 in 2011, cidade, Fotografia portuguesa | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
1ª exp. individual em 1988; em 1995, "Oriente Ocidente", com produção Ether e Fundação do Oriente, com comissariado de Jorge Calado. 1ªs colectivas: 1989, 1ª Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (1º prémio, secção retrato); 1990, European Kodak Award (Portugal), Les Rencontres d’Arles; 1991, "Regards Inquiets" – Portugal 1890-1990, Europáli'91, Antuérpia.
Livros: East West, 1995/ Peepshow, 1999 / Lotus, 2001 / Fotografias Recicladas, 2001/ Agosto, 2003/ António Júlio Duarte, 2006
outros catálogos: Almofala (com Valter Vinagre), 1990; Still (CNB), 2000
http://www.antoniojulioduarte.com/
#
*Os lugares da Luz ("Oriente Ocidente"), "Revista - Expresso", 13.05.95
*Enfim nós (Encontros de Coimbra, col.), "Revista - Expresso", 16.11.96
*De Viagem ("Peep show"; 4 fotógrafos), "Cartaz - Expresso", 6.10.99
*Macau, luzes e sombras ("Lotus" - com Paulo Nozolino), "Expresso", 10.03.2001
*Lugares de passagem ("We can’t go home again"), "Expresso", 10.07.04
*"Do Natural", Módulo, 2007
Colecção em viagem, in "Expresso", 12.10.02
50 fotógrafos, in "Expresso", 14.12.02
*Coimbra, Centro Artes Visuais, in "Expresso", 08.03.03
Cruzamentos Peninsulares, in "Expresso", 19.06.04
Arte em jogo, in "Expresso", 03.07.04
XXX (1975-2005), in "Expresso", 21.05.05
*Imagens Privadas/Plataforma Revolver, in "Expresso", 28.05.05
*As cidades de Madrid (PhotoEspaña), in "Expresso", 09.07.05
Prémio BES escolhe fotógrafos, in "Expresso", 30.07.05
#
1995, "Os lugares da luz", Expresso Revista, 13 Maio - Exp. "Oriente Ocidente", Lagar de Azeite, Oeiras - ver_artigo
e tb notas a 6 e 20 Maio + notas a 7 e 21 Out., por ocasião da mm exp. no Arquivo Fotográfico Municipal
Posted at 11:43 in António Júlio Duarte, Fotografia portuguesa, Fotografos | Permalink | Comments (0)
Tags: António Júlio Duarte
O MatrizPix, banco de imagens digitais relativas às colecções dos Museus e Palácios Nacionais e motor de pesquisa sobre fundos fotográficos digitais em alta resolução, produzidos e geridos pela DDF/IMC (Divisão de Documentação Fotográfica do Instituto dos Museus e da Conservação) - http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/Apresentacao.aspx - continua a ampliar o seu acervo e incluiu recentemente numerosas imagens das colecções do Museu de Arte Popular:
Fotografias identificadas como "Retrato de mulher" "Vendedora de fruta" "Retrato. Camponesa" (?) "Jóias", "Retrato de camponesa", "Festa popular", "Camponesa" - Papel
montado em suporte de madeira (provas refotografadas por Luisa
Oliveira, 2008
/ Copyright:
© IMC / MC)
Autor não identificado
Foi a DDF e a divulgação das fotografias das pinturas murais feitas por José Pessoa em 2007 (já depois da condenação à morte do MAP), na MatrizPix (ao longo de 2008-09?) que salvou o Museu
Posted at 09:06 in Fotografia portuguesa, Museu Arte Popular | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
No Público, a notícia cita o testemunho breve de José Manuel Rodrigues: www.publico.pt
Expôs na galeria Pente 10 - "Fotografias 1956-2008", com catálogo homónimo - em 2008, e antes tinha sido apresentado na Cadeia da Relação, CPF Porto - «Viagens Fotográficas» - em 2002 , com itinerância por Évora e Lisboa, na sequência da publicação de: Carlos Afonso Dias, «Fotografias 1954-1970» , Ed. Centro Português de Fotografia, 144 págs.
Fora "descoberto" por uma (primeira) exposição na Ether, em 1989 (cat.).
Foi engenheiro geógrafo especializado em fotografia cartográfica e depois investigador de pescas, tendo-se fixado em Angola em 1967.
capa do cat. de 1989, ed Ether
"Dois terços das imagens publicadas (em 2002) concentram-se nos decisivos anos de 1957 a 1959, aplicando-se o inicial entusiasmo da descoberta da fotografia a retratar a melancólica realidade do país, com a urgência de um assumido empenhamento humanista, e a explorar mais livremente o olhar e o humor nas deambulações pelo exterior, num trânsito que é bem significativo sobre a opressão do tempo nacional."
Sobre o seu trabalho fotográfico escreveram nomeadamente Gérard Castello Lopes nos catálogos de 1989 e 2002 («O Trampolim do Passado») e Jorge Calado ("Os percursos do éter", Expresso-Revista de 10 de Junho de 1989).
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Nº 29 - “A mulher é coisa fraca”, s.d. - c.1956 (?). Gelatin silver print. 39.6 x 29.8 cm. No verso, a lápis: autor, título: “A mulher é coisa fraca / Documental / Nº 4 / Secção IV / CB/ Foto Club 6 x 6
10 Dezembro (cartaz / desdobrável) http://www.p4liveauctions.com
Nº 30 - "Navegando à Vara”, c.1956. Gelatin silver print. 39.6 x 29.8 cm. No verso, a lápis: autor, título, "Processo CB / Foto Club 6 x 6 ", Bienal FIAP. Carimbo do ‘Osterreich Salon, 1956’
A imagem e o título da foto 1 confirmam o alinhamento do autor com os amadores interessados no testemunho social e na afirmação crítica, que no Foto Club 6 x 6 tiveram como primeiro intérprete Adelino Lyon Castro, à revelia do formalismo dominante. (Ver o artigo "in memoriam" de ALC publicado por Manuel Ruas no Boletim do Foto Clube 6 x 6, em 1956)
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No Jornal do Barreiro
15 de Setembro de 1955, "Vidas difíceis" na secção mantida por Eduardo Harrington Sena; é talvez o caso em que o apologista da "fotografia pura" mais elogia o "ambiente extraordinariamente humano" de uma imagem, sobrepondo-o à respectiva "beleza pictórica".
Foto premiada no 4º salão do Grupo Desportivo da Cuf do Barreiro, em 1954, ao lado de António Paixão, Mário Camilo, Augusto Cabrita e outros.
Artur Pastor não figura nos primeiros lugares do quadro classificativo dos amadores fotográficos publicado a 5 de Maio de 1955(, mas está em... CONTINUA)
Posted at 00:03 in Fotografia portuguesa, história da fotografia, Neo-realismo | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Augusto Cabrita 1 e 2
Macau (?), sem data (anos 60?), provas impressas por António Paixão. (1) 42 x 35 cm. (2) 22 x 18 cm
Compradas no leilão de P4 de 10 de Dezembro de 2009: http://www.p4liveauctions.com
Outras fotografias de Cabrita foram vendidas na mm ocasião: nº 6 a 10 de cat., 5 fotografias de acções militares em Angola, de 1961, no início da Guerra Colonial, reproduzidas em Angola - Os dias do desespero, de Horácio Caio, Lisboa, 1961 (5 de uma série de 9 imagens reproduzidas, e em especial um conjunto de 4 provas quadradas, 30x30 cm, de paraquedistas antes do salto - todas elas excelentes provas de exposição coladas sobre cartão);
nºs 11 a 14, referidas como Macau, anos 70 (certam. 60) - mas a nº 12 tem no verso a ref. Hong-Kong.
nº 24 e 25, Índia, anos 70 (tb 60?) 15 x 15 cm.
Segundo os elementos biográficos incluídos em Augusto Cabrita, Na Outra Margem, O Barreiro Anos 40-60, ed. CUF, Grupo José de Mello, Lisboa 1999 (Jorge Calado - com outros textos de Gilberto Gomes, et al.): "Efectuou várias missões no Oriente, 1960. Visitou demoradamente a Índia, e tb Macau". 1961, Macau, curta metragem. 1983, exp. e cat. "Impressões do Oriente, Fotografias de Augusto Cabrita (Homenagem a António Paixão)", Galeria Relvas, Golegã.
Augusto Cabrita, 1923-1992. cf. reportagens do "Século Ilustrado"
António Paixão, 1915-1986. Impressor e sócio dos Laboratórios Filmarte até 1983 (v. "Batalha de Sombras", Museu do Chiado, 2009
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Tags: António Paixão, Augusto Cabrita
André Cepeda
KGaleria
04-03-06
Se muitas reportagens se adaptaram às conveniências da fotografia de ilustração, os itinerários de A.C. por Bruxelas (de uma residência de artista em 1999, mostrados e ditados em 2005 pela Contretype) tomam o sentido inverso. O que seria uma reflexão sobre a identidade da cidade concentra-se no anonimato de locais banais e nas pessoas (nunca tipos ou personagens) que se podem encontrar em qualquer cidade. À unidade formal do quadrado a cores corresponde a diversidade das vistas e temas, numa deambulação distanciada da informação documental, intencionalmente neutra e «desinteressante». E, no entanto, estas imagens dum trânsito sem um explícito programa ou significado, mostradas sem qualquer ordem ficcional, tornam-se o desafio oferecido ao espectador para que as interprete e organize, numa outra e correspondente «divagação mental através da imagem e em torno dos seus possíveis significados», como diz Frits Gierstberg. (Até 18)
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Mário Teixeira da Silva (Módulo)
Fundação PLMJ
"Duas colecções" / Apresentadas em livro antes de mostradas em exposições
EXPRESSO/Actual 08-01-2005
Duas colecções portuguesas de fotografias apresentam-se. Uma de autores nacionais e outra internacional, incluindo alguns escolhidos portugueses. Uma dada a conhecer em livro mas com exposição anunciada para o Centro de Artes Visuais de Coimbra, já dia 22; a outra exposta em Barcelona com o respectivo catálogo, à espera de oportunidade para se ver em Lisboa, com outros critérios de escolha e em conjunto com as pinturas, esculturas e instalações que integram uma colecção única. Uma de formação muito recente - perto de cinco anos - e da iniciativa de uma sociedade de advogados; a outra com mais de trinta de maturidade e pertencente a um galerista, associada à sua actividade de divulgação da fotografia, mas sem com ela se confundir.
São ambas generalistas, sem um horizonte estético ou temático restritivo; uma intencionalmente abrangente, a outra mais marcada pelo gosto e percurso individuais. O facto de se tornarem públicas duas colecções privadas, uma da Fundação PLMJ, ligada à sociedade do mesmo nome, outra de Mário Teixeira da Silva, proprietário das galerias Módulo, é significativo de um novo estatuto da fotografia enquanto objecto de colecção e do crescimento de um novo mercado, em grande parte incluído no universo alargado das artes plásticas.
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Tags: Foto Colectania, Fundação PLMJ, Mário Teixeira da Silva
Não vi ainda as exposições descentralizadas por onde se faz a retrospectiva do trabalho fotográfico de Luís Campos, em mais uma superprodução Luís Serpa:
Fotos do projecto "Transurbana", em cima (agora no CAS, Sines), e de "Aldeia da Luz", no actual Museu da Luz (Luz, Mourão).
Mas quis ir rever o que há muitos anos - 93, 94 e 95 - escrevi (e estava disponível em arquivo) sobre as suas exposições.
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textos do arquivo - história da fotografia, Portugal
notas (a continuar)
Henrique Manuel Botelho, 2002
Jean Dieuzaide 1994
Jorge Henriques 2002
Nuno Teotónio Pereira 2004
Grupo Iris (LISBOA QUALQUER LUGAR) 1994
Livro de Viagem, de Teresa Siza 1998 1999
REVER LISBOA, de José Luis Madeira 1989
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Expresso Cartaz 28-02-1998
"A fotogenia do Estado Novo"
Um capítulo esquecido da história da fotografia e do modernismo nacionais.
Mário Novais
«Exposição do Mundo Português 1940»
Arquivo de Arte do Serviço de Belas Artes
da F C Gulbenkian
Antiga Fábrica de Rações do Beato (Convento do Beato) 19 Fev. a 19 Abril 1998
PODERIA isolar-se o título, «Exposição do Mundo Português 1940», e destacar a evocação do mais significativo precedente da Expo, observando os paralelos e diferenças entre ambas as iniciativas. Recordar a «celebração magna do Estado Novo salazarista», como com acerto lhe chama Rui Afonso Santos, no catálogo, é desenterrar profundas marcas da memória e do «inconsciente» nacional, e, por isso mesmo, propiciar elementos para avaliar como é diferente o quadro ideológico em que se pensou a próxima exposição internacional.
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Tags: Mário Novais
Fotografar a Arquitectura
Foi talvez a maior operação fotográfica levada a cabo em Portugal, pelo menos até à data (1955-1961), e o seu resultado é um marco, ou melhor, um mapa, de míticas dimensões. Na sua história, António Sena chama-lhe uma obra prima de fotografia e paginação, mas dedica-lhe apenas um pequeno parágrafo escassamente informativo. Trata-se do livro Arquitectura Popular em Portugal onde se condensa o Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa realizado pelo então Sindicato Nacional dos Arquitectos. Keil do Amaral (que também mostrou fotografia em várias das Exposições Gerais) esteve no seu início e foi um dos autores (Zona 3 Beiras), mas é provável que as primeiras referências ao projecto de um levantamento arquitectónico tenham sido enunciadas por Francisco Castro Rodrigues logo em 1945, durante uma Missão Estética de Férias da Academia Nacional de Belas Artes, em Évora...
António Menéres, então muito jovem finalista de arquitectura, integrou o grupo que fotografou a Zona 1, do Minho a Coimbra, com Fernando Távora e Rui Pimentel (o Arco do 1º neo-realismo). São fotografias reimpressas a partir do seu arquivo pessoal e profissional que se expõem na Torre do Tombo, numa mostra itinerante desde 2004, vinda da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, sob a responsabilidade do arq. Mário João Mesquita.
"António Menéres, Dos Anos do Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa" visita-se na TT só até dia 22 de Fevereiro, nos dias úteis das 10h às 19h e aos sábados das 10h às 12h.
Continue reading "António Menères, arquitecto e fotógrafo (c.1959)" »
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Tags: António Menères, Arquitectura Popular, Keil do Amaral, Torre do Tombo
lançamento, dia 24 às 18h
Um trabalho sobre as destilarias de aguardente de medronho das serras algarvias de Monchique e de Espinhaço de Cão.
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Tags: João Mariano, P4
É uma exposição de fotografia a propósito da lusofonia, em Bruxelas, incluída no programa da Presidência Portuguesa do Conselho da UE, com o Alto Patrocínio do Presidente da Comissão Europeia. No edifício Berlaymont, inaugurada no dia 5 e até 30 de Novembro. Acompanhado por um livro (bem) editado pela agência/colectivo Kameraphoto: "lusofonia".
Os fotógrafos da Kameraphoto reuniram os seus trabalhos sobre (ou realizados em) Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe*, Goa e Timor. Fizeram uma selecção que representa (bem) os vários autores da agência e os diferentes lugares, ou territórios, e neste caso nenhum prurido politicamente correcto meteu ao bolso a memória dos antigos trânsitos exploratórios, imperiais ou coloniais, e a actualidade dos vínculos e dos interesses comuns. Pelo contrário, levou-se ao centro do velho ex-império colonial belga (bem resistente à mudança) a atenção ao eixo lusófono, que não é só o uso da mesma língua. Não tem sido frequente esse desafio estratégico, com passado e certamente com futuro.
Mas importam aqui as fotografias, os fotógrafos, a apresentação da agência/colectivo, que é hoje uma das mais curiosas presenças activas da fotografia portuguesa.
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Tags: Kameraphoto
«Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?»
Fotografias da Kameraphoto
Casa Fernando Pessoa
(Expresso Actual de 18-11-2006)
OS 11 FOTÓGRAFOS da Kameraphoto - agência e colectivo de fotógrafos
«freelancers» activa desde Janeiro de 2003 - ocupam a casa toda e
roubam um verso do poeta para apresentar o seu trabalho.
Ao grande
painel inicial, que espelha o pulsar da vida e o projecto conjunto de a
interrogar, sucede a ramificação dos itinerários pessoais pelos vários
cantos do edifício, com uma estimulante pluralidade de interesses e
olhares. Entre os projectos documentais, os retratos, as «grandes
histórias», os encontros singulares, os momentos íntimos ou as
experiências da expressão (intenção) artística, suspendem-se as
classificações e hierarquias, sempre num bem conseguido jogo de
descobertas.
As provas expostas foram impressas em papéis, tintas e
impressoras Epson, e os resultados são excelentes, com prolongamento
num catálogo que também aposta na identidade colectiva do grupo:
Alexandre Almeida, António Júlio Duarte, Augusto Brázio, Céu Guarda,
Dora Nogueira, Guillaume Pazat, João Carvalho Pina, Pedro Loureiro, Rui
Xavier, Sandra Rocha e Valter Vinagre. Passa por aqui muito do mais
interessante que agora se faz por cá em fotografia. (de 28 Set. a 30 Nov.)
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Apresentou «Adiar o Coração" na Módulo em Março
nota in EXPRESSO/Actual de 17-03-2007
"À entrada, S/Título (Luísa a Sair do Banho) coloca-nos diante de uma muito provável referência - citação ou homenagem - a Bonnard, pintor e fotógrafo de um quotidiano intimista. Seguindo essa pista inicial, as fotografias percorrem diferentes situações domésticas numa sucessão de interiores que podem ver-se como discretos retratos em situação de um círculo de pessoas próximas da autora, embora preservando uma distância face a qualquer intenção de confessionalidade sentimental que as separa radicalmente do exemplo de Nan Goldin (adiando o coração?).
Entre a agilidade do instantâneo e a composição calculada, cinematográfica, o tempo ficcional das figuras-personagens e a importância dos valores da luz têm uma densidade pictural (mas não picturialista) e uma intensidade física que identifica as imagens desta primeira individual como um projecto fotográfico já individualizado."
Participou a seguir num projecto colectivo na Arte Comtempo, "Trabalhar Cansa",
e está agora na Plataforma Revólver, com três fotografias, em "Debaixo do Tapete", até 31 de Julho.
Catarina Botelho, “S/Titulo” (Júlia deitada), 2007
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Tags: Catarina Botelho, Módulo
Em 2003, e de novo em 2005, Lisboa teve o seu mês da fotografia, o LisboaPhoto. Em 2007, a bienal desapareceu ou interrompeu-se (?), sem explicações públicas que se tenham ouvido, ou que se aceitem. Em 1993 já tinha havido um primeiro Mês da Fotografia dirigido por Sérfio Tréfaut, que ficou sem continuidade (mas o Arquivo Fotográfico de Lisboa abriu no ano seguinte, 1994).
A história repete-se: 1993. 2003-2005. E depois?
Entretanto o PhotoEspaña vai celebrar a sua 10ª edição consecutiva.
(Arquivam-se os textos da época, sobre Lisboa e Madrid)
"Fotografias pela cidade"
Expresso/Cartaz de 24-05-2003, pp. 46-47
LisboaPhoto, primeira edição da bienal de fotograsfia promovida pela CML, vai apresentar 22 exposições em torno de questões urbanas
Como Madrid, Barcelona, Paris e outras cidades, Lisboa vai ter o seu mês da fotografia. Ou vai voltar a ter, depois da falsa partida de 1993, que, como diz o comissário do 1º LisboaPhoto, Sérgio Mah, deixou uma marca indiscutível «no imaginário da oferta cultural da cidade». Entretanto, Coimbra e Braga perderam ou interromperam os seus Encontros, que tiveram um papel central na divulgação da fotografia…
O projecto esta semana apresentado por José Monterroso Teixeira, director municipal de Cultura, terá um formato de Bienal e potencia a actividade regular do Arquivo Fotográfico de Lisboa, articulando-a com outros espaços institucionais da cidade num programa diversificado. A inclusão do Pavilhão de Portugal tem um declarado papel de alerta e de pressão no sentido da definição de uma vocação de índole cultural para o edifício (aí ficará o Museu Berardo?).
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"Visões da cidade"
Lisboa em três exposições e um pequeno salto a Paris (com Eli Lotar)
Expresso/Cartaz 14-06-2003
Um dos principais méritos da LisboaPhoto é a abertura da programação, onde a par da arte contemporânea que utiliza a fotografia e o vídeo, vulgarizando novas aquisições técnicas, se incluem práticas funcionais da fotografia como o fotojornalismo e a actividade documental e topográfica.
Com o museu e a galeria, em que se estabelece o reconhecimento histórico (Weegee e Eli Lotar) e se propõe o contemporâneo como género específico ou nova categorização essencialista, concorre o espaço incerto do arquivo, no qual se suspende a atribuição prévia de uma natureza artística dos objectos. Essa contiguidade é positiva para se entender a ambiguidade do medium fotográfico. Quando qualquer coisa pode ser arte, as distinções que importam dizem respeito à atenção que as imagens despertam e aos sentidos e prazeres que asseguram.
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Tags: Eduardo Portugal, Eli Lotar, LisboaPhoto, Luís Pavão
Patrícia Almeida, exposição (Locations, de 15 de Fevereiro a 24 de Março) e livro (No Parking, de 2004, ed. POC) na KGaleria.
POC Project
As fotografias expostas, da série "Locations" (2000-2005), já incluida no final de No Parking, e de um recente projecto em curso, "Being There", faziam uma demasiado discreta ou exígua apresentação do trabalho de Patrícia Almeida - n. Lisboa, 1970; História, UN, Lisboa; 1999, Imagem e Comunicação, Goldsmiths College. É o livro publicado pelo colectivo POC (Piece of Cake), em edição portuguesa, que é convincente.
A série "No Parking" foi realizada em Tóquio em 2001 com bolsa da Fundação Oriente e é apresentada por Ian Jeffrey - "Japão: uma avaliação". As vistas topográficas (espaços urbanos mais ou menos desordenados) são em muitos casos dinamizadas (ou estruturadas) pela passagem de figuras em trânsito, solitárias ou em grupo, que lhes introduzem um outro sentido documental e a possibilidade da ficção. Há também trípticos e imagens mais aproximadas sobre os transeuntes que sugerem um desejo de cinema. É em geral uma boa surpresa.
E ainda o desdobrável de © Madalena, de 2006, nos Açores. Um bem sucedido projecto colectivo do colectivo Kameraphoto, com a Madalena como modelo.
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Tags: K Galeria, Kamera Photo, No Parking, Patrícia Almeida, POC
(na capa: Grand Central Terminal, NY, 1959)
Em Arquivo
Expresso/Actual de 28-12-2002
"A realidade e o sonho"
Da memória dos anos 50 ao recente regresso à fotografia
Carlos Afonso Dias, «Fotografias 1954-1970» , Ed. Centro Português de Fotografia, 144 págs., €15
Carlos Afonso Dias, «Viagens Fotográficas», Cadeia da Relação, Porto (até 2 de Março)
O fotógrafo Carlos Afonso Dias foi descoberto por uma exposição da Ether, em 1989, quando parecia que as comemorações dos 150 anos da divulgação oficial da fotografia coincidiam, em Portugal, com a consolidação de mais favoráveis condições de produção, investigação e divulgação nesta área. Estava a começar a colecção nacional então promovida pela Secretaria de Estado da Cultura, exposta no início de 1991 e depois interrompida (mais tarde relançada em diferentes moldes pelo Centro Português de Fotografia). Ao longo de uma década de excepcional vitalidade, assistira-se à recuperação da memória histórica (e visual, necessariamente) da ruptura modernizadora introduzida nos anos 50 por alguns fotógrafos isolados - uns quase esquecidos, outros ignorados -, ao mesmo tempo que se afirmavam novos autores e muitos mais apareciam como promissores talentos.
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Tags: Carlos Afonso Dias, Ether