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Posted at 12:01 in 2016, foto, Lisboa | Permalink | Comments (0)
Jorge Guerra no Arquivo Fotográfico de Lisboa (09-04-2019). "Saudade de Pedra" (Lisboa, 1966 - mais precisamente, de 20/12/1966 a 5/01/1967 - 100 fotografias impressas pelo autor e adquiridas pelo AF em 1998). Exposição e livro, com texto de Jorge Calado.
Jorge Guerra com José Luís Neto (09/04/2019)
As fotografias de Jorge Guerra não foram divulgadas no seu tempo próprio, mas são um marco essencial dos anos 60 (1966), enquanto retrato da cidade no fim do regime de Salazar (seguir-se-ia ainda Caetano por mais alguns anos) e enquanto obra fotográfica - editada em livro em 1984, 1994 e 2019, agora em boas condições, sucede à Lisboa de Costa Martins e Victor Palla. Permanecendo secreta por muitos anos e discretamente divulgada (até esta exposição maior no Arquivo Fotográfico), Jorge Guerra ficou numa situação próxima - até hoje - de fotógrafo confidencial, como aos membros da tertúlia de Castello-Lopes, Sena da Silva, Carlos Calvet e Carlos Afonso Dias. Na história da fotografia em Portugal são muitos os autores secretos e alguns outros expuseram e/ou publicaram em vida mas ficaram numa espécie de limbo feito de ignorância e menosprezo, como Adelino Lyon de Castro e Maria Lamas, Artur Pastor, Augusto Cabrita, Gageiro. Ou os mais antigos Lacerda Nobre e Álvaro Colaço, Elmano da Cunha e Costa e os homens dos clubes 6x6 e Câmara.
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1994
“Mandados Oblíquos”, Casa Fernando Pessoa
Expresso Cartaz - 9 Out.
Jorge Guerra, 1966 (Col. Fundação Gulbenkian)
A. Um projecto fotográfico dos anos 60 reapresentado com extractos da «Ode Marítima» e editado num livro-catálogo. Usando a tele-objectiva e percorrendo em especial a zona ribeirinha, Jorge Guerra constrói um dos mais melancólicos retratos de Lisboa, fixando corpos e rostos por onde passa toda a inquietação dos anos da guerra e do exílio.
B. As fotografias de Jorge Guerra expõem-se associadas a extractos da «Ode Marítima», e também se editam num livro-catálogo sob o mesmo título: “Mandados Oblíquos”. Esta colagem temerária, que as imagens da Lisboa ribeirinha plenamente justificam, vem, aliás, renovar uma outra ligação poética que algumas destas mesmas fotografias já estabeleceram com a escrita de Ruy Belo e de João Miguel Fernandes Jorge num álbum quase desconhecido, “Os Poucos Poderes”, publicado pela Gulbenkian em 1984, embora planeado em 1972. Em qualquer dos casos ter-se-á tratado de assegurar assim a visibilidade de fotografias que têm, porém, em si mesmo inteira autonomia.
Realizadas em Lisboa durante a década de 60 (entre 66 e 68?) e ainda em grande parte inéditas — duas delas puderam ser vistas na exposição «Encontros com Narciso», em 1989, no CAM, e outras mais foram mostradas na Europália’91, por António Sena —, constituem mais um elo numa história só lentamente revelada e, em geral, depressa esquecida. Depois da “Lisboa…” de Victor Palla e Costa Martins, esta é uma outra viagem à procura da identidade de um país e também, através dele, de um destino pessoal, na demorada impossibilidade de uma plena existência colectiva.
É à beira rio, do Cais das Colunas ao Alto de Santa Catarina, diante da moldura aberta dos lençóis de água, mais rasgada ainda pelo uso permanente da tele-objectiva, que Jorge Guerra inquire os rostos e os corpos espectantes de uma cidade ao mesmo tempo íntima e absurda. Os anos eram então negros e os cais lugares de embarque para as Áfricas; Jorge Guerra, «cumprida» a sua guerra de Angola, voltava de Londres a uma Lisboa inabitável e assim se despedia para iniciar um longo exílio no Canadá, onde fez fotografia e cinema. <E onde dirigiu durante 15 anos, com Denise Guérin-Lajoie, a mais importante revista de fotografia do Canadá, a OVO.>
Algum «cinema novo» era vizinho deste mesmo olhar e, pela mesma época, o americano Neal Slavin (ver «Portugal 1968», edição Fotoporto 1990) traçava outro retrato implacável. Na breve história da fotografia moderna portuguesa, de que Jorge Guerra é uma das pedras definitivas (e um dos poucos que ultrapassaram a fase do amadorismo promissor), estas serão as mais pungentes imagens de nós mesmos. Mas se a melancolia domina estas imagens de gente solitária frente ao infinito, uma outra estranheza inquietante deve sentir-se perante a prolongada ocultação que as manteve até agora quase inéditas.
C. Edições e exposições com catálogo
Os Poucos Poderes, Fotografias de Jorge Guerra, Fund. Gulbenkian, 1984
Encontros com Narciso, Fotografias de Jorge Guerra, Fund. Gulbenkian, 1989.
Mandados Oblíquos, Fotografias de Jorge Guerra, Casa Fernando Pessoa, 1994
Jorge Guerra - Quarenta Anos de Fotografia, CCB 2000. (Ver entrevista de Celso Martins, Cartaz Expresso 12-02-2000)
1999
OVO Magazine, Montreal 1972-1988.
Expresso, Cartaz (Actual) 27-11-99
O FOTÓGRAFO Jorge Guerra faz hoje, no Arquivo Fotográfico de Lisboa, uma apresentação audiovisual do «Magazine Ovo», que dirigiu durante anos em Montreal, traçando também uma breve história das revistas internacionais de fotografia. Em exposição para consulta, uma colecção completa da revista, e alguns números, hoje raros, poderão ser adquiridos.
Editado e dirigido por Denyse Gérin-Lajoie e Jorge Guerra, o «Magazine Ovo» foi uma influente revista de fotografia que se publicou a partir de 1972 em Montreal ao longo de 15 anos, tendo desempenhado um papel relevante no desenvolvimento da cultura fotográfica do Quebeque, com efeitos na dinâmica cultural e política da região.
A revista seguiu um modelo original de publicação temática e documental que viria a ser vítima de fracturas resultantes da própria expansão das práticas fotográficas, até pôr termo, em 1988, às suas actividades e encerrar a galeria que fundara, em consequência de dificuldades económicas.
O seu último número contou com a colaboração de 70 fotógrafos internacionais, de Abbas a Joel-Peter Witkin, passando por Alvarez Bravo, Avedon, Boubat, Burri, Callahan, Cartier-Bresson, Larry Clark, Roy DeCarava, Sebastião Salgado, Jerry Uelsmann, Burk Uzzle, Joan van der Koiken, etc. A revista afirmava então defender «a fotografia como um médium essencialmente democrático que oferecia um meio simples e não sofisticado de registo, comunicação e expressão», colocando-se «em contra-corrente da política do 'savoir-do-dia' e de uma pretensa vanguarda que julga fazer avançar a história da arte mudando de estilo ao sabor dos ventos».
Também fotógrafo, Jorge Guerra publicou nomeadamente «Os Pequenos Poderes» em 1984, com fotografias de finais dos anos 60 e poemas de Ruy Belo e J.M. Fernandes Jorge (ed. Gulbenkian) e expôs «Encontros com Narciso» em 1989, também na Gulbenkian.
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«LISBOA COMO FUTURO - CULTURA» - 19 Março 2016
Uma contribuição (texto parcialmente lido no início da sessão - interrompendo a ordem estabelecida no programa da sessão organizada na futura Biblioteca de Marvila pela Dinamia, centro/empresa do ISCTE - e entregue ao presidente da CML e à vereadora da Cultura)
"A formatação dos painéis e dos seus temas e o longo formulário proposto para abordagem de cada uma das secções (Criar, Distribuir, Lembrar, Conhecer, Participar, Planear, Representar) não servem a anunciada intenção de reflectir e questionar as práticas culturais camarárias. Antes de arrumar os participantes em núcleos compartimentados e de temática fechada - anunciando-se como «Sessões de debate - workshop», entaladas entre dois discursos oficiais, de abertura e encerramento - seria seguramente oportuno auscultar, sumariar e enfrentar, a montante, questões gerais de orientação política e análises sectoriais livremente formuladas. Em vez dos guiões pré-definidos e das abstracções de uma categorização talvez académica valerá a pena olhar para o terreno e apreciar o que existe e o que se faz.
Desagrada-me profundamente essa linguagem típica de empresas de selecção e gestão de pessoal sob capa universitária. Perguntam "Existirá uma “cena” de Lisboa (um hype associado a certa produção cultural da cidade)?« (sic). Pensar a cidade e a sua cultura, parece-me ser do âmbito da política e não do marketing.
Enumero alguns tópicos que me interessaria propor à discussão:
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Começo pelo sector das galerias de arte, agora gerido pela EGEAC, e por apontar quer o número desmesurado desses espaços quer a situação incompreensível e inaceitável de o sector ser chefiado por alguém que dirige a sua própria galeria, o João Mourão (Kunsthalle Lissabon).
Não se encontra uma tal oferta de galerias, parte delas a ocupar vastos espaços - e espaços difíceis e impróprios, como a Cordoaria e a Av. da Índia -, em qualquer capital próxima (e de mais activa vida cultural). Não há em Lisboa um só centro de actividade marcante e de referência como são em Madrid o Espaço Conde Duque e o Centro Cultural de la Villa, o Centro Galileo e o Matadero, todos eles complexos pluridisciplinares integrantes da área municipal de Cultura, Ócio e Desportos (o que é uma justa associação). Ou como, em Paris, o Bal, o Centquatre, a Maison Européenne de la Photographie, o Betonsalon, o FRAC Ile-de-France. Ou como são na periferia a Casa da Cerca de Almada e o Centro Cultural de Cascais ou em Vila Franca de Xira o Museu do Neo-Realismo e a Fábrica das Palavras.
Aponto a programação irregular, casuística e por vezes quase confidencial de parte relevante dessas galerias, que não têm perfis próprios, não são lugar de acolhimento de propostas/candidaturas alheias, nem se inserem nas suas áreas populacionais, tendo períodos de inactividade que inviabilizam qualquer formação de públicos (a Quadrum e a Boavista serão os casos mais insólitos, mas os Pavilhões Branco e Preto deveriam certamente ser orientadas pelo Museu da Cidade, agora Museu de Lisboa).
Aponto a colagem notória das respectivas programações ao pequeno «meio da arte» nacional, ou a um pequeno círculo de cumplicidades, repetindo os mesmos nomes que circulam por galerias, museus, fundações e instituições idênticas, sem haver prospecção de valores menos mediatizados, nem abertura à diferença. Nada as distingue enquanto galerias municipais, e não têm vocações reconhecidas.
A isto se associa a opção pela promoção sistemática de jovens artistas (ou licenciados em arte, sazonalmente descartáveis) numa lógica que é ou assistencialista ou visa só a conquista e gestão de clientelas, o que se prolonga agora na viragem do sector institucional em geral para a política das «residências» de artistas e de «curadores». É toda uma prática de concorrência desleal com as galerias comerciais e com as possíveis iniciativas autogeridas por artistas, o que agrava um contexto em que parece não haver espaço senão para a iniciativa institucional ou para a dependência de apoios públicos.
Aponto a ausência de uma programação internacional de referência através de co-produções, parcerias ou acolhimento de iniciativas, em que Lisboa se afirme como parceiro de itinerâncias. Como excepção, lembro só Sebastião Salgado na Cordoaria, em colaboração com a Terra Esplêndida.
Acresce ao número de galerias geridas directamente pela CML/EGEAC (5 agora, segundo o seu site) um número extenso e indeterminado de espaços para exposições temporárias de museus municipais e muitas outras entidades da galáxia (ou polvo) CML, como a sede do Município, as galerias do Arquivo Fotográfico, e de bibliotecas, o Torreão Poente do Terreiro do Paço (Museu de Lisboa), a Casa da América Latina, agora a chamada Casa dos Mundos, etc, etc.
Deve ter-se em atenção nesta área das exposições e das artes plásticas o decréscimo sistemático de públicos, que em geral agora se desloca apenas a espaços associados a jardins e outros espaços de lazer. Há razões profundas para o desinteresse dos públicos, que têm a ver com um divórcio crescente e justificável entre uma cultura fechada sobre e para os seus agentes (sustentada pela crença na autonomia dos criadores) e, do outro lado, um lado cada vez mais distanciado, os consumidores de cultura-entretenimento, televisiva ou não, e em geral os frequentadores da área dos lazeres. Os públicos mobilizados pelas inaugurações (as corporações artísticas, os parentes e amigos) e as visitas escolares fornecem os números necessários para as estatísticas.
2
Em geral, no domínio das galerias e das salas de espectáculo, é manifesta uma posição de concorrência obviamente desigual - e desleal - com as iniciativas de outras entidades, privadas ou associativas e cooperativas (estas em decréscimo nítido, esmagadas pelas dependências burocráticas e centralizadoras, em especial no acesso a financiamentos públicos e comunitários).
Parece estar ausente qualquer reflexão actualizada sobre o sentido da acção cultural da CML, para além de se acrescentarem mais programas, mais festivais, mais eventos aos que são habitualmente promovidos por outras instituições públicas, fundações e centros culturais próximos (Almada, Cascais e Algés, Vila Franca de Xira - zonas limítrofes e carenciadas onde se justificam programações locais de divulgação, e que são em geral mais livres de estreitas dependências «curatoriais» e institucionais).
Existem marcas claras de centralismo e dirigismo (e também de elitismo) na política cultural oficial, sendo em geral as programações asseguradas por curadores e directores-programadores que cumprem em especial as suas ambições próprias. (A lógica do curador-artista e do programador-artista, que tem vindo a ser aceite, subverteu o exercício de lugares que começam por ter responsabilidades cívicas).
É evidente a opção nos espaços públicos pela ideia de programar (o que significa promover uma cultura oficial da cidade, ou antes de programadores oficializados, funcionários camarários ou não), em vez de patrocinar e acolher, apoiando as iniciativas cívicas, cidadãs, independentes e locais, mediante candidaturas e num diálogo regular e aberto que responda a interesses e projectos plurais e à acção de agentes descentralizados. A prática democrática de programação está praticamente ausente nos equipamentos camarários, cujo perfil de actuação se supõe diferente do de fundações privadas e equipamentos públicos de iniciativa e tutela do estado central.
Se o São Jorge acolhe programas de cinema, mantendo uma dinâmica pluralista, o S. Luis e em especial o Maria Matos programam e produzem (ou co-produzem) através dos seus directores programadores. O que os distingue das salas da Culturgest, Gulbenkian e CCB?
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Num campo que deveria ser uma das vocações principais de uma cidade aberta e plural como Lisboa, a interacção com as comunidades de origem migrante e o diálogo intercultural, a estabelecer também com os seus países de origem (mais ou menos remota), observou-se ao longo de toda uma década uma orientação destituída da capacidade - ou antes, da vontade - de comunicação com as diferentes culturas e com os agentes que com elas directamente actuam, bem como de resposta às necessidades sentidas localmente em Lisboa e nas imediações. Pelo contrário, impôs-se a opção por meras acções pontuais, de animação do centro da cidade, com possível aparato festivo mas sem continuidade nem relevância local (programa Todos e Lisboa Encruzilhada de Mundos). E, com maior gravidade, a opção por um projecto megalómano de ostentação cultural (o Africa.Cont), de mera representação mundana pretensamente cosmopolita, subordinado a um programa de reabilitação patrimonial urbanística (as Tercenas do Marquês e a sua área, das Janelas Verdes à 24 de Julho - plano certamente necessário mas a desenvolver noutras condições), com o qual se consumiram verbas, se paralizaram políticas de cooperação e se perdeu credibilidade internacional, após a cimeira Africa-Europa de 2007 e a patética apresentação do projecto utópico sob a pala do Pavilhão de Portugal, um ano depois. A auto-crítica ficou por fazer.
Sacrificaram-se assim anos de possível diálogo e acção intercultural a gestos auto-centrados e de ambígua promoção de alguns nichos culturais, em condições em que a incapacidade de díálogo se somou à absorção em proveito próprio dos recursos comunitários disponíveis. Agora abre mais um espaço de exposições confidenciais, a Casa dos Mundos, enquanto se ignoram ou marginalizam as acções e associações que existem neste terreno. Este é mais um campo em que a CML vem fazendo concorrência a si própria através de diferentes departamentos, e concorrência aos agentes independentes.
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Destaco ainda um campo em que a acção da CML teve em tempos manifesto êxito e atingiu um claro reconhecimento: a fotografia. Assistiu-se desde 2006 (depois da organização dos programas desmesurados e confusos do LisboaPhoto de 2003 e 2005, tal como sucedera mas com mais qualidade no Mês da Fotografia de 1993, ao tempo de Jorge Sampaio) à notória menorização daquilo que foi a acção qualificada do Arquivo Fotográfico, o qual foi submetido ao âmbito e às limitações operacionais e orçamentais da área de Arquivos.
O que foi um dos trunfos da política cultural lisboeta passou a ter uma existência cinzenta e de alcance doméstico. Mas a fotografia, nas suas diversas vertentes, é por toda a parte um dos eixos mais dinâmicos das manifestações culturais, mais mobilizadores de públicos e mais intervenientes em muito diversas direcções, técnicas, artísticas e políticas. No pouco que subsiste, o fechamento estético é manifesto (mas ressalvo a próxima exposição da Galeria Av. da Índia, vinda de Maputo).
Também o destino da Hemeroteca, destituída da sua antiga sede e deslocalizado para um espaço menor e obviamente insuficiente, ilustra a prioridade conferida às opções que têm mais a ver com as festividades efémeras e a visibilidade superficial do que com a atenção às instituições de referência em que a CML tinha e devia continuar a ter um papel destacado e insubstituível. Os equipamentos estruturantes têm sido sacrificados à política de eventos, com as possíveis excepções da renovação do Museu da Cidade e das Bibliotecas Municipais.
Uma última palavra, por agora, pode ser dirigida à informação veiculada na Agenda Cultural que certamente ganharia em concentrar-se nas iniciativas da CML e ao mais importante a acontecer nas freguesias em vez de as dissolver ou apagar num massificado cartaz de eventos indiferenciados (alargado a alguns artigos ocasionais e desgarrados), numa concorrência ineficaz com uma publicação como a Time Out e aos vários roteiros digitais existentes. O tempo de um cartaz generalista já passou, e a Agenda deveria agora divulgar e desenvolver de forma atenta as programações próprias da CML e aquelas que esta patrocina ou a que se associa.
Em todos os ítens teferidos colocam-se questões de reorientação de meios financeiros, a par da revisão das opções programáticas."
(a rever)
Posted at 13:54 in CML, Lisboa, politica cultural | Permalink | Comments (0)
Índice de um caso obscuro, o África.Cont, que nunca quis acreditar que viesse à luz do dia. Julgo que em mais de 25 anos de atenção a, ou intervenção em políticas culturais nunca vi uma história mais errada de todos os pontos de vistas:
- a segregação dos artistas africanos, das diásporas e das imigrações num elegante ghetto lisboeta;
- a substituição de uma agência capaz de actuar no terreno (em Bamako, Dakar, Luanda, Maputo, etc, numa dinâmica de intermediação e de trocas) por uma obra patrimonial de fachada, absorvendo e concentrando num espaço único a disponibilidade e os meios de múltiplos agentes públicos e privados descentralizados;
- a imediata dependência de intervenções urgentes e de resposta a necessidades locais, em África e nos bairros portugueses, em relação a um projecto de uma estrutura oficializada e central, cara e pesada;
- a inadequação do local apontado, de adaptação improvável (e caríssima) à instalação de um qualquer espaço público com ambições de dinamismo cultural;
- um provável entendimento restritivo da arte africana contemporânea a partir de uma lógica de cooptação pelos mercados dos países dominantes, ou de "um stablishment artístico etiquetado como poscolonial, composto por funcionários étnicos ou multiculturais" (como diz Jean-Loup Amselle em "L'Occident Décroché, Enquête sur les postcolonialismes", Stock, 2008;
- a sobreposição deste novo projecto faraónico - que excede tudo o que sonhou ser o voluntarismo carrilhista - a uma rede de museus muitíssimo carenciada, a outros organismos com interesses de programação na área da arte africana contemporânea e também ao Instituto Camões, que foi conseguindo, com poucos meios, estruturar políticas de trocas culturais.
(À hora do jantar oficial de lançamento da coisa, aonde não quis ir)
Posted at 19:27 in 2008, Africa, africa.cont, cidade, CML, Lisboa, lusofonia, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (3)