Foram ficando para trás as intenções de dar oportuna conta de alguns livros saídos em 2007 e que a diversos títulos me interessaram. São, todos eles (menos o último), trabalhos realizados no âmbito universitário, cumprindo exigências de investigação mais ou menos original e às vezes com dificuldade em ultrapassarem os condicionamentos escolares com independência crítica e uma escrita mais fluente (excepto o primeiro).
Guston em contexto. Até ao regresso da figura, de Manuel Botelho, Livros Vendaval - ver aqui
Um pintor escreve sobre outro pintor, um dos mais importantes norte-americanos (1913-1980) e aquele que teve a mais sinuosa e longa carreira, do muralismo de intervenção social e de gosto clássico a uma muito tardia e solitária reinvenção da figura depois da abstracção expressionista. E neste caso um livro bem escrito.
Escultura em Portugal no Século XX (1910-1969), de Lúcia Almeida Matos, ed. Fundação C.Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Academismo e modernismos; a pretensa "Idade do Ouro" dos anos 30-40; da estatuária à escultura, segundo as três partes do volume. Uma síntese necessária realizada sobre uma extensa investigação cronológica e documental, ampliando áreas ocultas sob o habitual predomínio da pintura e de uma informação mais lisboeta que nacional
A Revista Colóquio/Artes, de Margarida Brito Alves, Edições Colibri e IHA / Estudos de Arte Contemporânea, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
A única revista de arte com longa duração editorial, 1971-1996 (continuação já da Colóquio/Artes e Letras, 1959-1970), lançada, mantida e (mal) encerrada pela F. Gulbenkian, sempre dirigida por José-Augusto França. As condições de produção académica não foram ainda propícias ao exercício da independência analítica, mas ficam registados dados relevantes sobre o meio das artes nacionais e as suas tutelas críticas. Um sumário gráfico das capas teria sido fácil de fazer, útil e ainda mais óbvio.
Teoria e Crítica de Arte em Portugal (1921-1940), de Patrícia Esquível, idem.
Um estudo pioneiro de história da crítica, sobre um período particularmente sombrio, complexo ou só distante, antes de se institucionalizar propriamente a crítica de arte; trata-se ainda, em inúmeros casos, de crítica cultural ou de ideias, com um peso substancial de literatos. Aliás, desde o início se diz que o "livro pretende ser um estudo das ideias que circulavam em Portugal sobre artes plásticas" - e é-o com uma solidez nada frequente, muito centrada na gente da Seara Nova e da Presença. (Mas Vázquez Días foi um pintor "superficialmente influenciado pelo Modernismo"?! - pág. 187 -, ou o Modernismo vivia então, após as rupturas vanguardistas e os humorismos possíveis e também depois dos "regressos à ordem", o tempo da sua afirmação como estilo moderno, ou o seu período "clássico", que a 2ª guerra veio encerrar.)
Vanguarda & outras loas - Percurso teórico de Ernesto de Sousa, de Mariana Pinto dos Santos, Assírio & Alvim
As "loas" ecoam o melhor ou o mais significativo livro do ES, a propósito de presépios. Face à recorrente hagiografia pós-néo-vanguardista e à eventual promoção do divulgador-animador a artista, onde se juntam todos os poderes institucionais, da SEC à Gulbenkian, de Serralves ao Museu Colecção Berardo, num especial unanimismo, é sempre oportuno o propósito de revisitar as mudanças no itinerário do crítico, cineasta e homem de teatro que se iniciou em círculos neo-realistas, para avaliar a consistência e coerência do percurso. Valeria a pena, em particular, questionar a fragilidade (factual e ensaística) do seu livro sobre aquele movimento, certamente já de escrita demasiado desinteressada (Artis, 1965), e, antes, aprofundar as pistas de reflexão deixadas numa controversa monografia sobre Júlio Pomar (Artis, 1960), essencial a vários títulos e pouco conhecida.
Amadeo de Souza-Cardoso, Fotobiografia, Fundação Calouste Gulbenkian - Catarina Álfaro, Helena de Freitas e Leonor de Oliveira (bibliografia). Catálogo Raisonné, volume I.
Há muito aguardado, inclui importantes documentos fotográficos e outros, em especial a correspondência com Lucie e com a mãe, para além de representar um novo estádio na informação sobre o itinerário, as relações e a carreira internacional do pintor de Manhufe. Desde o "regresso" à América de Amadeo em 2000 a leitura tradicional de Amadeo entrou em revisão em revisão aprofundada e o provinciano aspirante tardio a cubista passou a ser um artista original, influente e não só bem relacionado (Brancusi e Modigliani), aberto a horizontes mais largos do que Paris. Não é de leitura fácil o registo cronológico (e as notas deveriam acompanhar o texto), mas servirá de base a outras escritas.
E ainda (Arquitectura):
Pancho Guedes, Manifestos Ensaios Falas Publicações, ed. Ordem dos Arquitectos - editores Ana Vaz Milheiro (texto), João Afonso e Jorge Nunes