Não é daqueles pintores de quem se pode dizer que é conhecido, está visto. Mas por enquanto releio o que escrevi por ocasião da anterior grande retrospectiva em Londres (com digressão por Barcelona, La Caixa, e Los Angeles, MoCA)
Reflection with Two Children (Self-Portrait), 1965 / Reflet avec deux enfants (autoportrait), 1965
© Madrid, Museo Thyssen Bornemisza / photo : José Loren / Lucian Freud
EXPRESSO Revista 10/8/2002
"Em carne viva"
No século da abstracção e dos corpos desfigurados ou fragmentados, a pintura de Lucian Freud levou mais longe que nunca a observação da realidade humana. A Tate Britain expõe a sua obra (Room Guide: http://www.tate.org.uk )
Desde há várias décadas que a pintura de Lucian Freud é classificada como chocante, perversa, cruel ou mórbida, e o seu autor referido como um terrível e misterioso personagem. Hoje, perante a sua mais extensa retrospectiva de sempre, no ano em que vai fazer 80 anos, discute-se se é ou não o maior dos pintores vivos e é admirado como o último dos «Old Masters». Mesmo se há agora menos lugar para o escândalo, a pintura de Freud não deixou de ser perturbante pelas razões de sempre - a presença real (mais do que realista) da figura humana nos seus quadros, a excessiva veemência física dos corpos representados como carne, a nudez crua dos seus modelos femininos e masculinos observados sem complacência e sem pudor, a desmesura e a deselegância de algum desses modelos, a relação pessoal do pintor com os corpos devassados e expostos das suas mulheres, amantes, filhos e amigos. Vê-lo como um pintor consagrado não deverá significar um olhar distanciado e reverente sobre as obras, que continuam a ser incómodas e nos interpelam como um desafio irresolúvel.
mais 10 páginas a meu cargo e ainda 4 sobre a "Família Freud" pela Isabel Margarida de Sousa