Posted at 00:41 in 2022, Berardo, CCB, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (0)
SOBRE A ESTÁTUA DO VIEIRA
Claro que é arte (é uma representação com ambição artística e, como se vê, objecto de disputa sobre a sua recepção como arte e a sua apreciação estética) Essa é uma errada direcção de análise (respondo a quem se preocupa em determinar se a estátua do PAV é ou não é "arte", no caso o Celso Martins). E não é o consenso que a determina como arte ou não arte.
É uma obra de arte medíocre. E isto não se prova, argumenta-se em busca de um consenso critico.
“Convém dizer que a estatuária é uma forma totalmente anacrónica de pôr símbolos no espaço público, a reflexão sobre isso não é estética mas política.” (sic)
A interdição da estatuária pela crítica do tardo-modernismo formalista não é matéria de fé - é uma tese académica datada - e não contraria ou condena a aspiração comum/colectiva a colocar marcas simbólicas no espaço público. Também se condenaram a figuração e os géneros tradicionais - o retrato, nomeadamente -, condenou-se o plinto e o bronze, pôs-se em causa a escultura (não a escultura “expandida”) a favor do objecto (encontrado), da assemblage, da instalação, etc, mas isso não a tornou impossível, embora rara, e teve por efeito a multiplicação de maus escultores que satisfazem a necessidade do monumento e da estátua, da homenagem e da memória, como sucedeu com o PAV e continuará a acontecer.
Custa-me a acreditar que o último escultor capaz de fazer estátuas seja o João Cutileiro: o Sebastião de Lagos, o Camões de Cascais, a Inês de Castro de Coimbra, a Florbela (onde?), o Afonso Henriques e muitos outros, os guerreiros anónimos, as mulheres, as mulheres, as mulheres... De qq modo se foi o último, a culpa não é dele, mas das Escolas e da crítica formalista pós-França.
Há quem continue às voltas com a ideia do atestado de arte, ou certificado de arte. Isso não é matéria de certificação nem de consenso, democrático ou de 'especialistas'. Essa é uma questão nula, inexistente, o que já se sabe há muito.
O consenso procura-se quanto à avaliação crítica, à apreciação estética. E estas não se 'estabelecem' de uma vez por todas, defendem-se, argumentam-se. Para alguns efeitos legais ou oficiais e institucionais (colecções, museus, concursos, etc - ou tipo classificação de espectáculos) a avaliação pode ser delegada numa comissão (ou parlamento, até), o que não a torna avaliação definitiva ou a verdade.
Também querem certificar quem é artista e quem não é? Regressam às corporações, às academias? Ou pensam numa Ordem dos artistas? Incluem os amadores e outsiders, espontâneos, loucos? De certeza que os maus artistas terão direito à carteira profissional neo-corporativa. (14 junho)
*
Uma estátua é uma homenagem quando é erigida e inaugurada. Depois é um vestígio, uma peça do património histórico, um objecto identificado ou não, uma obra de arte ou não. Quem não consegue actuar no presente volta-se para os fantasmas do passado. Um problema efectivamente actual é a incapacidade ou impossibilidade (segundo Rosalind Krauss e discípulos) dos artistas contemporâneos conceberem monumentos e estátuas. (Para que servem hoje os escultores?) 12 junho
(coisas rápidas do facebook...)
SOBRE O ZECA AFONSO, uma nota à bruta
A propósito de monumentos e da sua dificuldade.
Por concurso faltariam candidaturas e as que aparecessem apontavam para os calhaus "abstractos". Há poucos artistas, em especial escultores, e há demasiados licenciados em escultura, ou arte em geral, que vivem acolhidos e protegidos pelas galerias institucionais - são geralmente fraquíssimos, mas preenchem as quotas oficiais. Vivem de instalações descartáveis destinadas às reservas dos museus, se couberem nos orçamentos protectores, ou que se fazem e desfazem para ocuparem à vez os grandes espaços vazios das galerias públicas, nas traseiras do restaurante do museu ou dos jardins "museológicos" onde se leva a família ao fim de semana (um progresso cultural óbvio).
Estas obras de autores ignorados, praticantes da estátua (são várias as homenagens ao Zeca Afonso, há muito tempo uma vítima...) devem servir para se verificar que a necessidade da estátua (ou retrato, ou busto - a ideia da homenagem e da marcação simbólica de lugares, a memória colectiva, a "arte pública") não se extinguiu e continua a importar a muitos, mas desapareceu o saber fazer.
A figura, a representação, a decoração, a ilustração foram condenadas no espaço social da arte pelas vanguardas do século XX e nada se lhe lhes substituiu. A "impossibilidade do monumento" fez parte da cartilha do tardo-modernismo formalista de Rosalind Krauss. As escolas trabalham com "conceitos", intenções, projectos, modelos de curricula e de candidaturas a apoios, e os professores também já não sabem do ofício. Se se perde o ofício e a tradição, a função, os artistas são também dispensáveis (mas é certo que faltam empregos e nem todos podem ser professores de coisa nenhuma). A autonomia da arte esbarrou na parede. (6 de Agosto)
Amadora: Estátua em mármore de José Afonso, de 4 metros, da autoria do escultor Francisco Simões. Inaugurada em 1991 pela Câmara Municipal da Amadora, situa-se no Parque Central cidade.
Grândola: escultor António Trindade, 1999:
Monumento a José Afonso no Complexo Desportivo José Afonso | Grândola: Autor arquitecto João Videira (C.M.G.), 1987
Monumento a José Afonso Parque Zeca Afonso - Baixa da Banheira: Peça escultórica, implantada no Parque Municipal José Afonso, é de autoria do Mestre Lagoa Henriques, 1994. A escultura, em pedra e bronze, foi adquirida por subscrição pública,
Malpica do Tejo: escultor Cristiano Ferreira, 2014 "Com a presença de largas centenas de pessoas a Junta de Freguesia de Malpica do Tejo em colaboração com a Câmara Municipal albicastrense e a Associação José Afonso organizaram e levaram a cabo, hoje dia 1 de maio, Dia do Trabalhador, o 1º Festival José Afonso que contou com a presença de inúmeros artistas, Orfeão de Castelo Branco, grupos de bombos e do sobrinho de Zeca, João Afonso." "Recorde-se que José Afonso recolheu presencialmente em Malpica do Tejo, no final da década de 60 do século passado, quatro cantigas do cancioneiro popular da Beira Baixa, “Maria Faia”, “Oh que calma vai caindo”, “Lá vai Jeremias” e “Moda do Entrudo”." Jornal de Oleiros
Belmonte, escultor Pedro Figueiredo (2020), agora com outras fotos mais correctas
E também:
Vhils, 2014: Escola Secundária Dr. JoséAfonso, Seixal
Odeith (https://www.facebook.com/odeithofficialpage/ ), 2016: Falagueira, Amadora. ( https://www.publico.pt/2016/10/12/p3/fotogaleria/amalia-paredes-e-zeca-os-novos-gigantes-da-amadora-386153 )
Associação José Afonso
www.aja.pt
Posted at 11:08 in 2020, Escultura, Polemica | Permalink | Comments (0)
Posted at 09:18 in 1990, Arte oficial, CAM, CML, Polemica | Permalink | Comments (1)
Tags: António Quadros Eduardo Luiz
Transcrevo do Facebook (de 10 de Dez.) para não perder mais tempo. Com um ou outro acrescento pontual.
1- Já leram a promoção que um conhecido semanário (o Expresso) faz hoje de um desconhecido historiador de arte (o Bernardo Pinto de Almeida, catedrático)? É informação? É crítica? É recado? É bairrismo? É publicidade? É uma vergonha. Rais partam o semanário que desce, desce, desce... Fiquei espantado qd vi a revista de um amigo. Como não acreditei, vim a casa digitalizar para guardar as provas do delito (do Valdemar Cruz, um topa a tudo sem competência para se ocupar do tema, mesmo como jornalista generalista).
2- Devo dizer que comecei a ficar incomodado qd recebi um mail assim: "Conversa Pública e Lançamento do Livro
Com <...o autor> (Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto) e João Ribas (Diretor Adjunto do Museu de Arte Contemporânea de Serralves)
Com esta obra luxuosa, repleta de belíssimas imagens (mais de 500), <o autor> apresenta-nos uma visão profundamente original e inovadora da História da Arte portuguesa no último século.
Rompendo com muitas das ideias cristalizadas no tempo sobre artistas inigualáveis como Amadeo de Souza-Cardoso, e revelando a genialidade de nomes quase esquecidos, o mais importante crítico de arte da atualidade oferece-nos uma panorâmica, excecionalmente rica e solidamente fundamentada, da receção nacional aos movimentos artísticos do século XX e dos seus protagonistas.
Esta será, daqui em diante, ‘a’ História da Arte portuguesa contemporânea, referência incontornável para artistas, colecionadores, estudantes e amantes de arte.
" 'É com este alfobre de ideias, de conhecimentos enciclopédicos, de finura de observação, de alta cultura não só artística como também filosófica e literária, através de uma escrita sempre elaborada e original, rica de semelhanças e diferenças, que o leitor fica – com as imagens ao lado – habilitado a escolher de entre o ‘museu imaginário’ concebido <pelo autor> as obras que mais gostaria de levar para casa a fim de as colocar no pequeno museu da sua imaginação.' - do prefácio de Manuel Villaverde. " [Mas foi mesmo o MVC que escreveu esta prosa digna de um qq serôdio académico? Não é o Manel que eu conheci.]
Enviado pelo autor do livro, este escrito promocional está também e ainda na Agenda de Serralves: http://www.serralves.pt/pt/actividades/historia-portuguesa-do-sec-xx-uma-historia-critica/ Já tinha esquecido a coisa qd sábado deparei com a Revista do Expresso. Anote-se para a História que alinham nas sessões, no Porto, o João Ribas, o António Guerreiro e o Manuel Villaverde Cabral, e em Lisboa Margarida Acciaiuoli, o mesmo Manel e o José Bragança de Miranda, numa "conversa aberta" moderada por Margarida Brito Alves e Filomena Serra.
3- Pergunta o escriba (V.C.) para entrar na matéria: "Pode um artista integrado na lógica fascista ser em simultâneo um modernista?" (e se dissermos que a "lógica fascista" é em si mesmo modernista? - o perguntador perderá o pé?)
"Há um modernismo fora de Lisboa, porque o regime proibia as manifestações modernistas. Sobretudo a partir de 1931, procura arregimentar os artistas." Vem entre aspas, deve ser do catedrático.
'O regime' já proibia antes de 1931? Já procurava arregimentar os artistas? Mas 'o regime' existia antes de 1931? Ferro antes de Ferro?
'O regime' fazia as suas Exposições de Arte Moderna, no SPN/SNI, por onde passavam os modernos / 'modernistas' existentes, contemporâneos mais ou menos coevos das modernidades moderadas dos anos 30 com curso dominante em todo o mundo, nessa década de reafirmações realistas em diferentes formações nacionais (ver "Années 30 en Europe - Le Temps Menaçant", MAM Ville de Paris 1997) e incluindo surrealistas como Pedro, Dacosta e Cândido (eram do "contramovimento" segundo MVCabral), e até futuros neo-realistas, mas diz-se que "proibia as manifestações modernistas" (as exposições, entenda-se).
"Não se pode dizer que aquele grupo dos neomodernistas lisboetas são pintores modernistas, porque vendiam todos para o regime". Temos aqui um 'must' entre as muitas pérolas. Eram modernos porque expunham no Salão de Arte Moderna e porque se contrapunham aos "botas de elástico" da SNBA (a Sociedade à antiga), como se devia saber, e também eram 'neomodernistas' mas não, nunca modernistas. Vá-se lá entender o que por aí se escreve, inovando, polemicando, contextualizando, e com muitas ilustrações para fazer um coffee table book a dar-se ares de hiustória crítica.
Estranho era o Botas ('o regime') ter comprado a todos - ele saberia? Assinava os cheques sem ver? O Ferro enganava-o? Temos por aí uma nova pista para abordar o fascismo nacional.
Os artistas que trabalharam para António Ferro "não são modernistas, e esta é a primeira grande dissensão relativamente ao critério de França". Etc, por aí fora, sem se perceber se o jornalista percebe o que escreve e o que cita.
Modernismo é uma palavra de uso difícil e variado, que quer dizer coisas diversas, episodicamente, em países e tempos diferentes. Modernista, em princípio, era alguém ou algum movimento que se reclamava como moderno, como do seu tempo, portanto inovador, em geral definindo-se numa "vanguarda", numa corrente, tendência ou estilo que se opunha a outros, anteriores ou diversos. Hoje já não há modernistas, o que torna mais complexo um uso útil do termo: ou é uma categoria precisa na história ou é uma sucessão ± vaga de movimentos e/ou vanguardas que têm só em comum o facto de se substituíram e/ou sobreporem desde meados do séc. XIX aos academismos e salonismos (aos gostos dos Salons) dominantes. Para muitos ficou entendido como modernismo a sua versão tardia e última, formalista à Greenberg. Mas modernismo pode ser também um não-conceito vazio, um saco de gatos, uma rasteira aos incautos, um factor de intermináveis confusões.
ADENDA
Recordo que, entre outros quiproquos, no Expresso e fora, escrevi em 1994 uma crítica sobre a 1ª versão desta mesma história nacional: EXPRESSO Actual, 12 Fevereiro, pp. 15 e 16, sob o delicado título "Borrar a pintura". O sr respondeu na edição de dia 26 (texto não transcrito no local abaixo referido) e eu respondi-lhe na mesma data ("Ponto final"): os interessados podem ler em http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2010/01/pol%C3%A9mica-em-1994.html
Posted at 13:36 in Artistas Portugal, Polemica | Permalink | Comments (0)
sumário: 1. sobre "Das redes sociais para as galerias de arte", de Vitor Balenciano, Público de 14 Nov. / 2. sobre "Ninguém ficará par ver tantas imagens", de António Pinto Ribeiro, Ipsilon, Público, 21 Vov. / 3. sobre uma edição atribuída a Carlos Relvas.
A escrever sobre fotografia cada um mostra o seu amadorismo, ou melhor, o seu diletantismo. O artigo do Público (Vitor Balenciano, 14 Nov.) não podia começar pior: "Antes da Internet as fotografias dos amadores ficavam na gaveta." É falsíssimo.
"Das redes sociais para as galerias de arte": o link
Uma resposta: A questão era a frase "Antes da Internet as fotografias dos amadores ficavam na gaveta"
1. As fronteiras (entre o que é ou não arte, o que é amador ou profissional) não existem, o que é mais do que serem transitórias e permeáveis. Não chegam, aliás, a ser «construções» (muros), são só propostas teóricas ou convicções ingénuas, e todas partem de um princípio errado, o de que é possível ou necessário estabelecer fronteiras. O que é ou não arte não é pensável depois de um século de arte naïf, de primitivismo, outsider art, arte infantil e anti-arte (o Duchamp só ilustrou isso, muito cedo). O que é fotografia e o que é arte também não tem fronteiras. A questão da fronteira, ou seja, da ordem, é só fiscal e policial. Pergunta: quando se fala em fronteira, não se trata de trincheira, coutada, condomínio, reserva de iniciados, clube fechado?
2. Não existe uma questão nova, de escala. Ou melhor, a história da fotografia foi feita com a sucessão dessa mesma questão nova, de escala; com sucessivos momentos de ampliação de escala dos praticantes e consumidores (o caixote Kodak é só o episódio mais conhecido; o negativo comercial, a Leica, o Polaroid são outros). O acesso e o uso foram agora muito ampliados, fotografa-se como se fala ou como se escreve: por aí introduz-se uma diferença comunicacional decisiva mas que, se altera a comunicação, não altera o que é uma fotografia. Em especial uma boa fotografia. Feita por uma câmara de grande ou pequeno formato, analógica ou digital, a preto e branco ou a cores, com a nova super-Leica ou o Iphone, impressa em platina ou enviada num sms, uma fotografia é sempre fotografia, não passa a ser outra coisa. Estão todas em competição.
3. A fotografia de amadores começou com a fotografia. A auto-expressão tradicional (parede e edição) continua hoje por toda a parte nos concursos, salões e clubes - e nas inúmeras exposições de aparecem por todo o lado de candidatos a artistas: eles são amadores com minijobs ou duplo emprego, são «criadores» e desempregados (ou reformados) com suficiente auto-estima, ambição e relações para aparecerem a público. São todos artistas. O BES foto é, ou era, um Salão, tal como o é a Bienal de Veneza, mesmo se com novas regras de funcionamento e selecção: neste momento pensar as permanências pode ser mais proveitoso do que pensar a novidade - embora os jornais vivam de novidades, reais ou supostas, e a novidade (ou melhor a obsolescência programada) seja o fulcro da economia actual (e do mercado da arte actual também).
4. O que importa é pensar a qualidade do que se faz e expõe (no ecrã, na página e na parede). E a qualidade tem a ver com a questão do gosto e da crítica.
#
14 NOV.
17 NOV. Temas a considerar:
1. O que são "redes sociais". Quando e como surgiram? (Depois do Fotolog em 2002)
2. O que mudou na produção e na circulação (na visibilidade, divulgação, exposição e publicação) e no entendimento da fotografia (e na "natureza" ou na definição da fotografia, se existe definição) com o aparecimento e a proliferação da fotografia digital, primeiro, e depois com a sua entrada nos computadores pessoais e a seguir nos telemóveis? Entrou-se num novo paradigma ou trata-se de mais um capítulo da generalização e democratização da fotografia? (Não há - nunca houve - rupturas nem novos paradigmas em fotografia)
3. O que tem mudado na diferença (ou in-diferença) entre autores (produtores, criadores ou praticantes) de fotografias, considerando as possíveis distinções tradicionais entre profissionais e amadores, entre profissionais e artistas, entre artistas e fotógrafos? (Somos todos fotógrafos - tal como todos falamos e escrevemos).
+
O simples facto de os que fotografam com telemóvel não se contentarem com o envio das fotos, nem com a sua circulação na internet, e quererem em muitos casos passar à parede de exposição e à edição impressa mostra que mudou a câmara, as suas potencialidades e a facilidade de a usar, mas o objecto fotografia vai mudando sem se tornar outra coisa. Não se trata de pós-fotografia nem de uma ruptura ou novo paradigma: um paradigma não é uma nova tendência, seria uma ruptura decisiva, que permite falar de um antes e um depois, ou dizer que nada ficou como dantes.
# E a seguir:
legenda: "Basta a qualquer utilizador de telemóvel reclamar-se fotógrafo para ser como tal reconhecido"
Outra vez a propósito do que se diz no Público e da ignorância pretenciosa sobre o que acontece com a fotografia (neste caso, sobre o pavor elitista das redes)
"A fotografia é um excelente exemplo da apropriação exaustiva do mundo pelo ser humano narcísico da contemporaneidade — e uma das mais eloquentes formas de expressão do consumo imparável." (sic)
Ou seja, multiplicam-se as imagens fotográficas em rede e também os ensaios sobre fotografia em circulação informática. Uma canseira.
Sobre a fotografia e "a fotografia nas redes sociais":
O ser humano narcísico da contemporaneidade, ele mesmo, podia perceber que agora se fotografa e se comunicam imagens fotografadas tal como se fala e como se escreve - não é por acaso que se usa para isso o telefone. É mais um passo na ordem da comunicação inter-pessoal, mais uma habilidade acessível ao homem comum, mais uma prótese a juntar à caneta, mais uma etapa democrática: ele, homem comum, fala, escreve e fixa-comunica ou transmite o que vê (mas fala mal, escreve pior e fotografa ao calhas - o povo é ignaro, segundo o aristocrático ensaista, aliás, auto-proclamado 'o ser humano narcísico da contemporaneidade'). Nada mudou quanto à fotografia, mudou a comunicação e a comunicabilidade. Depois há uns figurões que vivem a complicar.
O corpo de delito:
#
E também, a 11 de Nov., outro equívoco episódio. "Carlos Relvas em negativo"
Posted at 23:59 in fotografia, Polemica | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
aliás, ele está acima de tudo e todos. Interessa-se por ele próprio e pelo que lhe interessa. É auto-referencial, tautológico e certamente autista (ou, vá lá, Asperger?), e, como é natural, inteligente, mas não vou tentar confirmar se continua arguto e brilhante (seria?), porque nunca tive paciência para o ler, nem necessidade de o ler. Não será agora a 1ª vez. Fiz uma exposição com ele, como co-comissário (em parceria com a Lúcia Marques), e correu bem. Um dia cheguei à Culturgest e ele tinha feito alterações ao catálogo e queria ocupar-se de tudo. Disse-lhe que não podia ser e ele retirou. Era uma exposição que ele herdara, o Xana. Certamente uma coisa muito inferior àquilo que aprecia, e que eu não aprecio. Vou lá de ano a ano, a ver se melhorou, mas os diques continuam a proteger o seu feudo nos Países Baixos. E vou ver artistas que considero, e que ele sempre maltratou ou desorientou: o José Loureiro e o João Queiroz.
No Facebook comunica-se, bem ou mal. Comunica-se socialmente, o que não faz dele FB um OCS mas outra coisa, nova, útil e perigosa, aliciante e enfadonha, etc. Uma coisa viva, e não inerte como as obras de arte e não-arte que ele aprecia.
Adiante. Noto que o diálogo no FB começou comigo e acaba comigo (não é raro), por via da colaboração do Xana. O resto foi falatório. Fica transcrito para que se guarde a excelsa escrita do grande comissário W e a memória do diálogo sobre alguém acima de toda a crítica. (Por acaso, tinha escrito hoje no FB que a crítica de arte acabou por determinação de Bruxelas e do G20 devido à engenharia social aplicada à alteração e rarificação do mercado de trabalho. Não se pode dizer que nem todos são artistas embora tudo possa ser arte.
A partir daqui é dele ou transcrição dele:
Caríssimos,
Ontem, certa pessoa depositou em cima da minha mesa de trabalho, com ar muito divertido, umas folhas com a reprodução de uma conversa a várias vozes que se derramou no Facebook a pretexto de uma afirmação que eu teria feito acerca da crítica da arte e que me é atribuída num artigo da Inês Nadais, no jornal Público, escrito a propósito do vigésimo aniversário da Culturgest.
Como não uso, nunca usei, nem faço tenção de usar o Facebook, e como o assunto envolve a Culturgest, achei que o e-mail (a partir do meu endereço electrónico de trabalho) seria um veículo válido para um esclarecimento (a maioria dos participantes na conversa figura na minha lista de contactos); achei também que partilhar com um número mais alargado de pessoas aquele episódio e este esclarecimento poderia ajudar à boa disposição – se a leitura do falatório provocar, como me provocou a mim, sonoras gargalhadas, então tanto melhor.
Esperar que este e-mail tenha algum suplemento didáctico, isso já me parece wishful thinking. Não se pode ter tudo.
É sabido que o que se escreve (sobretudo nos jornais) é verdade, mas sucede que a citação no jornal Público, que suscitou a indignação de Luísa Soares de Oliveira e desencadeou tão eloquente falatório, não corresponde ao que eu disse.
É sabido que o que se escreve (sobretudo nos jornais) é verdade, mas não deixa de ser interessante constatar como isso é frequentemente naturalizado, dado por adquirido, no caso em apreço por uma “crítica de arte” que deveria conhecer melhor (e no mínimo pôr em dúvida) os mecanismos e processos de edição jornalística.
Foi longa a minha conversa telefónica com a jornalista Inês Nadais (quem me conhece sabe que falo pelos cotovelos), era escasso o espaço disponível no jornal para o artigo (e para citações), e muito reduzido o tempo para a jornalista editar as minhas declarações. Nas parcas citações que me são atribuídas o que eu digo surge truncado e/ou descontextualizado – em palavras mais simpáticas, sintetizado.
Para quem não teve o prazer de acompanhar o falatório, ou mesmo nele participar, reproduzo-o a seguir a esta missiva.
Vamos então ao esclarecimento:
O que eu disse à Inês Nadais na referida conversa telefónica (e recorro à minha memória para me parafrasear) foi o seguinte: face aos cortes no orçamento das exposições e aos constrangimentos daí decorrentes, não sobrava outra alternativa que não fosse redefinir estratégias de programação e adoptar maior flexibilidade táctica a esse respeito, desde logo reduzindo o volume e o ritmo de actividade. E dei como exemplo categórico o facto de se ter interrompido o programa de exposições na galeria da Culturgest no Porto, transformando este espaço numa livraria de arte e reservando apenas uma sala para situações expositivas ou para a apresentação de obras, consoante as possibilidades oferecidas pelo orçamento. Não se pode caçar com cão, caça-se com gato, foi uma expressão que usei a propósito. Acrescentei que esta solução (de recurso) não nos envergonhava, muito pelo contrário, pois considerávamos que a livraria de arte, que nasceu junto às galerias de exposições da Culturgest em Lisboa, em 2011, é um projecto de enorme relevância no contexto cultural e artístico português, tendo uma função (didáctica) muito importante a desempenhar também no Porto. E rematei este ponto da conversa dizendo que, de qualquer modo, já há algum tempo que me vinha questionando sobre a racionalidade económica de fazer um programa de exposições na Culturgest do Porto, sobre o sentido de despender uma parte significativa do orçamento e muito trabalho a organizar exposições que tinham muito pouco público e do qual não só os media e o jornalismo cultural em geral, mas também os críticos de arte, se alheavam desde há vários anos – pus, naturalmente, a ênfase na demissão dos “críticos de arte” relativamente às suas responsabilidades.
Parentesis: a questão da deserção (demissão) da crítica de arte diz respeito sobretudo à necessidade de um debate no espaço público acerca da arte, e não tanto à sua influência sobre os fluxos de público.
Não deixa de ser, no mínimo, curioso que seja Luísa Soares de Oliveira a enfiar uma carapuça imaginária mas que lhe assenta na perfeição, uma vez que a “crítica de arte” em questão se remeteu ao silêncio relativamente às exposições na Culturgest, sejam elas em Lisboa ou no Porto, desde que escreveu um artigo ensandecido no jornal Público, no Verão de 2008, denegrindo a exposição retrospectiva (e o trabalho) de Willem Oorebeek, e aproveitando a embalagem para dizer o que lhe ia na alma ou nas tripas em relação ao programa de exposições da Culturgest por mim elaborada. Um enternecedor voto de silêncio, quase tão purificador quanto o voto de castidade.
Não gostaria de me alongar demasiado e abusar da vossa paciência, mas antes de vos deixar com a prosa no Facebook, e para que não restem dúvidas acerca da minha posição relativamente à crítica de arte em Portugal, reproduzo as minhas respostas a duas perguntas simples que me foram endereçadas pela Revista4 e publicadas nessa revista há uns meses:
“R4 – Enquanto curador e programador de exposições de arte contemporânea, que lugar confere à crítica de arte feita em Portugal nos últimos 15 anos, e de que forma entende a relação entre exposição e recepção crítica na produção do seu trabalho?
“MW – Nos últimos quinze anos, a crítica de arte em Portugal tem tido um lugar (ou tem desempenhado um papel) insignificante. Pior do que isso, nos últimos anos a crítica de arte em Portugal passou de insignificante a inexistente.
“Como se depreende da resposta anterior, e com grande pena minha, a relação entre exposição e recepção crítica (em Portugal) na produção do meu trabalho tem sido nula.”
Daqui um bem hajam dirigido a todos os entusiastas do Facebook!
Miguel
Luisa Soares de Oliveira
4/10
Diz o Miguel Wandschneider na entrevista que dá hoje no Público à Inês Nadais, a propósito dos 20 anos da Culturgest, que o espaço do Porto foi reconvertido em livraria de arte devido "ao total desinteresse da crítica, logo dos públicos". Ah, como é bom, e como deve ser reconfortante culpar a critica de tudo o que de mal acontece! Tirando isto, que não interessa a ninguém, a ligação que o MW faz entre críticas e públicos é muito interessante e tem que se lhe diga. Será que a crítica (na imprensa; suponho que ele está a referir-se a isso) condiciona efectivamente os públicos? estou aqui a lembrar-me de casos de sucesso de exposições que não precisaram da crítica para nada, e que mesmo com críticas negativas (e poisitivas) tiveram milhares (centenas de milhares até!) de visitantes. Acho que o MW nos está a dar um poder que não temos, nem queremos ter. E penso que a divulgação, tanto como a crítica, passa hoje por canais que não se podem ignorar. O Facebook, como o Twitter e os blogs, são imprescincíveis na formação de um gosto, um público, uma opinião crítica. Mais do que isso, a capacidade de estabelecer ou de se integrar numa rede social de cumplicidades é fundamental para a aceitação dos projectos próprios. Gostava que o MW fosse tão lesto a interrogar-se sobre estes assuntos como o é a atacar os críticos de arte.
Dou um exemplo que vou buscar propositadamente fora do círculo das artes plásticas: o do Jorge Silva Melo que quase todos os dias nos fala aqui dos seus Artistas Unidos, sempre educadamente e com sabedoria. É impossível não saber o que lá se passa, não ter vontade de ir ver, não descurarmos uma notícia que saia no Ipsilon ou no Cartaz do Expresso a propósito do espectáculo que ele tem em cena.
Nunca o vi acusar a crítica de não ter públicos. Podia falar do Alexandre Pomar, que faz o mesmo para a sua A Pequena Galeria, mas como já disse não quero entrar pelas artes plásticas. O Jorge chega.
Alexandre Pomar Na livraria da Culturgest de Lisboa encontrei alguns livros admiráveis, com preços muito favorecidos.
4/10 às 15:09 • 2
Luisa Soares de Oliveira ora estás a ver, não é nenhum desprimor transformar um espaço de exposições em livraria de arte...
4/10 às 15:10 • 2
Ana Pérez-Quiroga Acabei de fotografar esta nova versão do espaço em livraria. Mas ainda tem um pequeno espaço expositivo em cima e claro os cofres em baixo.
4/10 às 15:13 através de telemóvel • 2
Colaco Tomas Se hovesse aqui o público iria le-lo, talvez.
4/10 às 15:20 • 1
Nuno Nunes-Ferreira não querendo dar razão a ninguém acho que a critica muito raramente sai de Lisboa para ir ao Porto ou a outras paragens. mas isto é uma opinião pessoal...
4/10 às 15:29 • 4
Maria de Morais humildemente parece-me que tantos uns como outros, gostam de ter a papinha feita... mas bon, c'est juste une idée
4/10 às 15:52 • 1
Colaco Tomas ui ui, a conversa está quentinha.
4/10 às 15:56 • 1
Maria de Morais ou nao estivesses na bela cidade d'Aix en Provence, je crois que je vais y vivre un temps incertain
4/10 às 16:00 • 1
Colaco Tomas viens, il fait beau en plus!Ver tradução
4/10 às 16:01 • 1
Luisa Soares de Oliveira pois sai, Nuno... é que há cada vez menos pessoas que compram jornais, logo menos leitores, logo orçamentos mais reduzidos, para viagens e estadias ... porque é que o Porto não produz um crítico de qualidade, pergunto eu?
4/10 às 16:01 • 2
Luisa Soares de Oliveira boa ideia, maria, deixa-te estar por aí.
4/10 às 16:01
Maria de Morais ??
4/10 às 16:03 • 1
Colaco Tomas Eu acho que a Luísa ficou a achar que estavas aqui em Aix....é isso?
4/10 às 16:04 • 1
Maria de Morais nao percebi, ou nao gostou do meu post
4/10 às 16:05 • Editado • 1
Luisa Soares de Oliveira não estás em Aix, Maria?
4/10 às 16:05 • 1
Colaco Tomas eheh, não. pelo menos aqui nesta rua não a vejo.
4/10 às 16:05 • 1
Luisa Soares de Oliveira então quem é que está em Aix? mas que confusão
4/10 às 16:06 • Editado
Maria de Morais até quando?
4/10 às 16:12 • 1
Maria de Morais este ano nao ha nenhuma galeria portuguesa na Fiac,
4/10 às 16:13 • Editado • 1
Alexandre Alves Barata felizmente, o artista está sempre em auto-gestão !
4/10 às 16:19 • Editado • 3
Jorge Silva Melo Auto artista!
4/10 às 17:11 através de telemóvel • 2
Maria de Morais "Auto gestao" faz me pensar a umas conversas com Nicolas Bouriaud sobre a economia do artista e esta aos impasses antropológicos que Richard Sennett interroga - Comment poursuivre des fins à long terme dans une société qui ne connaît que le court terme ?
Comment entretenir des relations sociales durables ? Comment un être humain peut-il se forger une identité et construire un itinéraire dans une société faite d’épisodes et de fragments ? Poderia ser uma porta aberta para um ciclo de artistas que questionam o lugar do corpo humano nestes ambientes “desertos” ou para aqueles que decidiram de quebrar o circulo establecendo uma outra economia num mundo que nao os tem em conta
4/10 às 18:10 • 2
Luis Silveirinha Muito havia a dizer sobre estes assuntos. A critica é importante?O destaque num jornal como o Publico ou o Expresso é importante? Talvez. A obra vai-se continuando a fazer independentemente das estrelas e das opiniões, agora é curioso e é verdade que há artistas que recebem sempre espaço para as criticas e outros não. Há artistas que realizam uma exposição e que se possivel nesse mesmo dia vêm uma critica - destaque sair. As pessoas ligam? O publico liga a isso? Não! O especializado talvez, os colecionadores, as instituições, os curadores....Os criticos têm o poder de divulgar, de chamar publico, sobretudo de chamar a atenção para os pares. Penso eu!
4/10 às 18:51 • 3
Manuel Graça Dias Eu acho que a crítica raramente vai a Aix!
4/10 às 19:10 através de telemóvel • 2
Luisa Soares de Oliveira Manel, caríssimo Manel, tens toda a razão. É uma injustiça. São sempre os mesmos que vão.
4/10 às 19:16 • 3
Luís Brilhante Tanto ruído, mas afinal é apenas uma opinião a do MW.
Resta é saber quem faz um trabalho sério com a devida distância daquilo que admira. E aí sim é preciso ter cautela, tem de se estar sempre com a objeção pronta, a ver se é demolível (o que se admira), que afinal não tem qualquer utilidade. Creio ser este o exercício fundamental e o caminho a trilhar no famoso triângulo - critica, público e artista.
4/10 às 19:26 • 2
Susana Neves Se uma crítica revelar informação interessante e for honesta (não dizer maravilhas de uma nulidade ou não desvalorizar o que tem valor) e se o critico conseguir que o jornal valorize com boas imagens o trabalho do artista, se for visualmente interessante, penso que algumas pessoas se mobilizam. Já me aconteceu quer por ter escrito quer por terem escrito sobre o meu trabalho. Mas não é decisivo.
4/10 às 20:45 • 2
Susana Neves Penso que a falta de público tem muitas vezes a ver com a fealdade e o vazio do que é proposto como arte. Mas também é verdade que o grande público vai ver sobretudo o que é mediático, e isso é também um efeito do desprezo pela multiplicidade de linguagens artísticas preconizada pelos media. Portanto, a falta de público é uma questão complexa.
4/10 às 20:57 • Editado • 1
Jorge Silva Melo Ai. Luísa, no PUBLICO, o teatro que fazemos - fraquito, bem sei, dantesco no sentido do Júlio Dantas, académico... - deixou de aparecer há algum (muito) tempo - desde que lá assomou quem impunemente afirma - e publica, todo lampeiro - que PLAUTO é um clássico GREGO. (Santa Ignorancia, santíssima).
4/10 às 20:56 • 6
Joao Silverio em que passo do universo estará agora a memória de Diderot?
4/10 às 21:17 • 3
Jorge Silva Melo ah...
4/10 às 21:17 • 2
José Batista Marques Factualmente, a sociedade líquida da pós-modernidade começará cada vez mais a definir as suas pequenas unidades de sobrevivência.
4/10 às 22:37 através de telemóvel • 2
Manuel Graça Dias Essa da "sociedade líquida" é copos, não é?
5/10 às 0:24 através de telemóvel • 5
Raquel Ribeiro Eu acho lindo é que tu ainda dizes o Cartaz do expresso
5/10 às 1:03 através de telemóvel • 2
José Batista Marques Caro Manuel, em rigor: sex&drugs&rock&roll + copos
5/10 às 9:12 através de telemóvel • 2
Luisa Soares de Oliveira vocês são terríveis. Jorge Silva Melo, espero que não estejas a referir-te ao meu querido Tiago Bartolomeu Costa.
5/10 às 9:44 • 1
Jorge Silva Melo esse querido precisa de receber umas boas aulas de introdução ao teatro, Luísa...
5/10 às 10:08 • 2
Luisa Soares de Oliveira que tolice, Jorge Silva Melo... ele que até te dá tanta atenção...
5/10 às 10:31 • 1
Jorge Silva Melo Luisa, queres uma lista de erros de palmatória? farei um workshop, vais ver...
5/10 às 10:35 • 1
Luisa Soares de Oliveira não, Jorge, tinha que começar pelos meus, que são às centenas.
5/10 às 10:35 • 2
Jorge Silva Melo ... mas já tenho milhares...
5/10 às 10:38 • 1
Luisa Soares de Oliveira ... além de que sou amiga do Tiago, e logicamente não quero que ninguém venha dizer mal dele no meu mural.
Bem, estou a ver que afinal, tens tanta pedra no sapato contra a crítica de teatro quanto o MW, de quem eu pensava que tu eras bem diferente... a minha conversa acima cai por terra.
5/10 às 11:40 • 1
Jorge Silva Melo olha... não me magoa com a queda...
5/10 às 11:41 • 1
Alexandre Pomar A conversa não me parece estimulante, e vamos tendo de calar muita coisa. Mas lembro-me de um recente texto que me fez escrever para o Público e tb no fb, escandalizado com um erro óbvio e grave. Depois o Jorge assinalou mais 3 ou 4 nas mesmas páginas. Claro que sabemos que já não há revisores, nem copydesks, nem editores que leiam e corrijam ou interpelem. Agora é sem rede - e ao fim de algum tempo sem leitores.
5/10 às 13:19 • 4
Transboavista Art Edifício A crítica a que o MW se refere e gostaria de ter, não me parece ter leitores e, consequentemente não tem poder próprio! É verdade, a morte traz sempre uma desculpa.
5/10 às 15:34 • 2
Alexandre Alves Barata repito o que Alexandre Pomar disse: "... e vamos tendo de calar muita coisa" , porque o debate de ideias está a desaparecer.. ou talvez nunca tenha sobrevivido ao "estado novo"...
Posted at 16:49 in Culturgest, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
A 19 de Janeiro editei aqui a "Lusofonia 1" , em resposta ao artigo de António Pinto Ribeiro, "Para acabar de vez com a Lusofonia", publicado no Público / Ipsilon de 18 Janeiro 2013 e reproduzido no Buala ( (secção "A Ler"). Era já a adaptação mais cordata de uma reação imediata no Facebook.
Começa assim, muito mal: "A lusofonia é a última marca de um império que já não existe. E o último impedimento a um trabalho adulto sobre as múltiplas identidades dos países que falam português" (sic).
No mesmo dia 19 acrescentei a "Lusofonia 2" que visava em especial o que seria a história inscrita no conceito de lusofonia: "Alimentada pela esquerda mais retrógrada e pela direita mais nacionalista e nostálgica do império, a lusofonia tem uma história, balizada por alguns acontecimentos." Lembrando um outro episódio crítico sobre o mesmo tema, era-me particularmente interessante referir a complexidade política do pensamento colonialista, citando um nº especial da Seara Nova de 1926 sobre "O Problema Colonial".
A 20 de Janeiro continuei em "Lusofonia 3", propondo eu a ideia de que o ensaismo de Eduardo Lourenço, Alfredo Margarido e Miguel Vale de Almeida sobre estes tópicos tem alimentado a rotina académica especializada nas elocubrações identitárias, prolongadas talvez paradoxalmente na retórica dita pós-colonial, mas a sua operacionalidade é exígua quando se trata de passar dos bancos da escola ao relacionamento intercultural e internacional. Apoiava-me expressa e especialmente em Moisés de Lemos Martins, professor da U. do Minho, e na conferência " Lusofonia e Luso-tropicalismo : equívocos e possibilidades de dois conceitos hiper-identitários ", para pôr em causa a suposta confusão entre a eficácia da ideia e da prática da lusofonia e uma qualquer actualização portuguesa, consciente ou não, do passado colonial, tendo a nostalgia imperial como inevitável carga ideológica. Citava Maria Manuel Baptista e estudo «O conceito de lusofonia em Eduardo Lourenço: Para além do Multiculturalismo ‘Pós-humanista’, 2000.
Insisti no dia 21 com "Lusofonia 4" para contestar o que seriam argumentos históricos de uma pretensa história da lusofonia. Um confronto simples com a informação corrente.
A 1 de Fevereiro, o texto "Sobre refugiados e escravaturas" estava indirectamente relacionado.
Com data de 8 de Fevereiro acrescentei "Lusofonia 5" para abordar o que seria outro passo histórico do conceito de lusofonia, ou seja, a forma errada de lembrar o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, que o formulou em 1951, e de referir a recepção do sociólogo brasileiro em Portugal, primeiro por sectores democráticos e colonialistas, e depois pelo regime autoritário e colonial, só a partir daquela data e por iniciativa de sectores reformistas do regime. A continuidade do pensamento de G. Freyre num eminente antropólogo e político como Darcy Ribeiro é muito mais produtiva do que os seus críticos portugueses, presos a uma lógica oposicionista nacional e anacrónica.
Entre os comentários que se sucederam a esta "lusofonia 5" fiz referência rápida a um artigo de Cláudia Castelo publicado no Buala a 5 de Março, "O luso-tropicalismo e o colonialismo português tardio" (é autora de «O modo português de estar no mundo»: o luso-tropicalismo e a ideologia colonial portuguesa, 1998). Tem o mérito especial de abordar a relação (difícil) do Regime com a ideia e a prática da miscigenação, e de referir que "nas margens do discurso oficial, o luso-tropicalismo vai (foi) encontrando receptividade junto de especialistas de diversas áreas do saber", apontando os casos de "Jorge Dias (antropologia), Orlando Ribeiro e Francisco José Tenreiro (geografia), Adriano Moreira (ciência política), Mário Chicó (história da arte), Henrique de Barros (agronomia), Almerindo Lessa (ecologia humana); António Quadros (filosofia), etc."
Entretanto, a mesma "lusofonia 5" teve ontem, dia 9, outra contribuição dialogante do sociólogo José Pimentel Teixeira, em Maputo. É mais uma expressão do "desconforto com a noção e com os seus implícitos" e da atenção aos "implícitos acriticados que a "lusofonia" transpira".
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Não posso falar sobre o cacilheiro da Joana Vasconcelos porque não o vi. Falo sobre as reações ao cacilheiro da Joana, que não são reacções críticas porque os comentadores não o viram também, e não há juízo crítico possível com honestidade sobre uma obra de arte visual não vista, ou musical não ouvida, literária não lida, etc. Sabe-se que o habitual, mesmo para a crítica de arte, ou em especial para ela, é falar sobre press-releases e conferências de imprensa sobre intenções: está lá tudo explicado, ready-made, e melhor se for com ajuda do croquete. E também habitual é o ressentimento perante o sucesso, facilitado pelo não-ver e pela preferência igualitária pelo medíocre.
Por que razão a arte contemporânea incomoda aqueles de quem não se esperaria tal incómodo? Por ser arte? Por ser contemporânea? Por ser obra de uma mulher artista? Por se tratar de uma artista que se fez a si própria, sem vir de famílais ricas, sem ter uma segunda profissão comercial a pagar-lhe a “vida artística”, sem ter sido funcionária da SEC ou directora de museu, sem ter sido promovida ou produzida por uma galeria ou por um crítico, sem ser a cabeça mediática de um grupo, ou movimento ou geração (se tais coisas ainda existem)?
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Posted at 11:57 in 2007, 2013, Joana Vasconcelos, Polemica, Veneza | Permalink | Comments (3) | TrackBack (0)
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Há dez anos. E não chegou a ser uma polémica, porque o João Pinharanda não me respondeu (e foi uma respeitável posição).
No Expresso Actual de 11 de Agosto, pp. 10 e 11, "Eduardo Luiz: crítica da crítica"; 18 de Agosto, pág. 8, "Esuardo Luiz e António Areal - Questões de método"; e 25 de Agosto, pp. 8 e 9, "Areal: palavras e/ou obras". Os jornais eram diferentes. As preferências mantêm-se inalteradas.
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EXPRESSO Actual, 12 Fevereiro 1994, pp. 15 e 16
PINTURA PORTUGUESA NO SÉCULO XXBernardo Pinto de Almeida
É indispensável reescrever a história da pintura portuguesa do século XX, e podia supor-se que um crítico e universitário surgido nos anos 80 teria a vantagem do distanciamento geracional para corrigir o que é prejudicado nas histórias antes escritas pelo empenho em defender memórias e companheirismos pessoais nas batalhas travadas pela afirmação da modernidade.
Esta não é uma "História da pintura...", avisa-nos o autor ("não chega a sê-lo completamente... para tanto faltando maior explicitação da investigação..."). A prevenção sobre a natureza deste livro tem de ser levada em conta para que não se lhe exija o que não quis ou pôde ser, mas B.P.A. comete logo a seguir à sua declaração de modéstia a imprudência máxima de lhe definir o "exacto perfil" como uma "Estória... à maneira de Gombrich". Não podia elevar mais a parada, e por isso há que dizer, desde já, que o que lhe faltou não foi a "explicitação da investigação" mas, pura e simplesmente, a investigação.Por vezes, os comentários que vai fazendo, ao longo do livro, às obras dos artistas individualmente considerados, quando as viu, revelam as qualidades de observação e interpretação que se conhecem de textos críticos dispersos ao longo da última década. Elas poderiam ter sido o suporte de um discurso que percorresse livremente os seus artistas de eleição, estabelecendo um diálogo problematizador com as pinturas, liberto das obrigações da cronologia e da abordagem globalizante.
Posted at 01:15 in 1994, história de Portugal, Polemica | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Posted at 01:10 in 1982, Gulbenkian, história de Portugal, Polemica | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Não pensava precipitar-me a escrever sobre o África.Cont e o seu Encontro a decorrer 6ª e sáb. na Gulbenkian, num muito vago Auditório III. Um ano depois de prometido e anunciado com ilustração arquitectónica a condizer, estão ainda a perguntar o que deve ser a coisa e com a rectaguarda institucional por cumprir. Felizmente. O consórcio não tem parceiros, a fundação de fundações não tem fundadores - nem Berardo, nem Ellipse, nem Serralves, etc; a Gulbenkian amável mas sempre estatutariamente de fora; a crise económica mundial não ajuda e as empresas públicas já não se mobilizam com telefonemas imperiosos (sob escuta?). Angola ausente: se pode comprar Veneza ("Check List Luanda Pop"!!), para que há-de precisar de Lisboa? Nem Embaixadas, nem Bancos. Restam o MNE, a CML e o MC com magros orçamentos para cumprir os mínimos, e também se sabe que os titulares (os mesmos e os novos eleitos) hesitam, duvidam, adiam, consideram, reconsideram ou recusam (em voz baixa, claro). Estão aqui envolvidas questões graves, desígnios e compromissos de Estado, promessas diplomáticas feitas no Pavilhão de Portugal, um ano depois da cimeira UE-África. Mas é agora o momento definitivo de reponderar os custos de construção de um projecto urbanístico e arquitectónico de provável qualidade (embora sem o vantajoso concurso público), de reavaliar verbas de funcionamento regular futuro (disse-se 4,5/5 milhões de euros/ano?), de reexaminar o mérito conceptual de um projecto institucional solitariamente proposto. Declaração de interesses: admiro muito a firmeza política, a determinação, a obstinação mesmo, do primeiro-ministro, mas esta é uma situação em que é necessário recuar. A decisão entusiasmada que tomou um dia numa visita matutina ao cenário grandioso do Palácio Pombal e das Tercenas junto ao Tejo compreende-se, mas as razões do argumento não têm a grandeza do lugar. Bastará referir a crise, o défice...
Não era isto que eu queria dizer, por agora, evitando o papel de "crítico de estimação" que o Fernandes Dias me atribui, mas é desesperante que um ano depois se anuncie entre as mãos de quem abriu o encontro apenas um inventário de questões, mesmo se inteligentes, e não uma entidade em funcionamento no terreno: circulando entre a Cova da Moura e Dakar, entre Maputo e Bamako, entre Joanesburgo e a Baía, etc. Porque se está a perder tempo, definitivamente. Não será um museu (ao contrário do que repetem as notícias), mas também não é uma agência, nem um organismo da diplomacia e da cooperação portuguesa, embora se espere que cumpra uma agenda política - institucional mas independente... Não se dedicará só ou em especial ao espaço lusófono, nem apenas às artes visuais: a arte contemporânea como arte em geral. Teria um vasto centro simbólica e fisicamente monumental, patrimonial e contemporâneo, entre as Janelas Verdes e a 24 de Julho, mas seria também um pólo intermediático de descentralizações, trocas, redes, co-produções e itinerâncias entre o continente e a diáspora, os ex-impérios coloniais e os novos centros emergentes: o mundo todo. Tudo e nada. Aliás, de facto, não se discute aqui e agora o programa possível, mas muito em abstracto a ideia de África, que é plural, fragmentada e diaspórica, ou já uma África "posnacional" e não apenas poscolonial, procurando a próxima moda.
O Zulu do título é bem real. Veio do Brasil e trocou as voltas ao Encontro. Primeiro com um gesto radical e simples: o representante do movimento negro brasileiro e da instituição do Ministério da Cultura para a valorização da cidadania afro-brasileira, Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares, negou-se a usar o inglês e quebrou por isso o protocolo: falou em português, que o Brasil defende como língua de trabalho nas organizações internacionais. Um gesto coerente e também exemplo de independência face a uma hegemonia anglo-saxónica que perpetua como língua de produção e domínio do conhecimento o poder autoritário de um centro já só imaginário. Depois, situou o papel de liderança que o Brasil tem vindo a construir em África no quadro diplomático da CPLP, como veículo determinante de novos relacionamentos intercontinentais, e já de um novo intercâmbio afrolatino. Trata-se de dar um sentido político à diplomacia, apoderando-se dos seus instrumentos e usando a sua hierarquia institucional, construindo projectos que não são apenas pontuais e ostentatórios. Trata-se igualmente de pôr em prática um entendimento aberto de cultura, onde à dimensão simbólica que se expressa na linguagem artística se associa o direito à cidadania (as políticas públicas de acesso à produção cultural) e a dimensão económica, considerando a importância do mercado dos produtos culturais. Zulu Araújo trouxe o vigor de um movimento social (afro-brasileiro) em que a cultura desempenha um papel de resistência e de afirmação, no contexto progressista do Brasil de Lula, a um programa marcado pela incerteza ou o epigonismo dos objectivos.
adenda (05/12): por coincidência, www.cenalusofona.pt/ Em Coimbra, de 3 a 6 de Dez.:
Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio
ENCONTRO
"Coimbra é uma lição de cultura no intercâmbio da lusofonia"
por PAULA CARMO - Hoje - http://dn.sapo.pt
Políticos e agentes culturais da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) discutem relançamento do projecto Cena Lusófona
Posted at 01:45 in 2009, africa.cont, lusofonia, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (0)
"Caso a Caso" (com Inês Pedrosa), a acompanhar uma entrevista com Pedro Santana Lopes, EXPRESSO Revista de 6 de Abril, pp. 10, 11, 12, 15, 16, 18.
"Os casos da Cultura são já tantos que a sua inventariação só se pode fazer através de um dicionário". Em pouco mais de um ano de mandato já se podia falar da balbúrdia da SEC. Mas podia falar-se..., dentro de alguns anos iam ser usados, por outros, métodos sujos de silenciamento
ACORDO ORTOGRÁFICO - S.L. assinou-o. (Ver CNALP)
ÁGUA - A EPAL costuma cortá-Ia aos Museus, por acumulação de facturas em atraso. A EDP e os TLP também fiam: em Janeiro o total das dívidas do IPPC às três empresas públicas ultrapassava os 21 mil contos, tendo aquelas começado a ser saldadas, segundo o «DN», com verbas saídas (ou desviadas?) do Fundo* de Fomento Cultural. (Ver Museus)
ANOS DE PROJECÇÃO - Santana Lopes anunciou que
os «anos de ouro» já começaram em 1990 e que vão até
1994, assim calendarizados:
1990. Comemorações dos 150 anos da restauração da inde
pendência (tratou-se de um início simbólico e talvez por
isso não se deu por nada - mesmo assim, os festejos em
Vila Viçosa com a respectiva publicidade devem ter orçado
em 70 mil contos).
1991. Exposição dos «Tesouros da Coroa Portuguesa» (que
se deverá inaugurar este Verão na Ajuda, mesmo antes de
seguirem para Bruxelas). Europália*.
1992. Presidência* do Conselho das Comunidades Europeias, no 1º semestre. Programa anual de animação das
regiões fronteiriças. Exposição de Sevilha. Circa 92, em
Washington (Ver Painéis).
1993. Supressão das fronteiras.
1994. Lisboa, Capital * Europeia da Cultura.
Posted at 23:52 in 1991, Polemica, politica cultural, Santana Lopes, SEC | Permalink | Comments (0)
Tags: Pedro Santana Lopes
ARQUIVO
EXPRESSO, Cartaz, 1 de Junho de 1991. pp. 38-39 (Actual / Opinião)
"A cultura do ressentimento"
Edite Estrela e António Reis apresentaram no passado sábado, num hotel de Lisboa, as propostas do Partido Socialista para o sector da cultura. A quatro meses das eleições, um extenso documento intitulado «A política cultural do PS em debate» foi oferecido à apreciação dos «agentes culturais»; a quatro meses das eleições, também, Edite Estrela e António Reis perfilaram-se como candidatos à pasta da cultura num possível governo socialista.
Acontece, entretanto, que as propostas formuladas se revelam absolutamente distanciadas da actual realidade do sector (por efeito do longo afastamento do Poder?, por sobrevivência de um quadro ideológico de referência que impede a compreensão das dinâmicas culturais que atravessam o quotidiano?). São todas as marcas da velha ideia da «mudança das mentalidades», do entendimento burocrático e livresco da cultura como o plano mais «nobre» de uma política de instrução pública de modelo oitocentista, que se reconhecem como inspiradoras do documento. O prazo parece ser curto para que, neste domínio e nesta direcção, a intervenção socialista venha a revelar-se mobilizadora, ou sequer positiva num contexto que é, por outro lado, o do caos generalizado no campo da política governamental da cultura.
Posted at 22:17 in 1991, Polemica, politica cultural, PS | Permalink | Comments (0)
Índice de um caso obscuro, o África.Cont, que nunca quis acreditar que viesse à luz do dia. Julgo que em mais de 25 anos de atenção a, ou intervenção em políticas culturais nunca vi uma história mais errada de todos os pontos de vistas:
- a segregação dos artistas africanos, das diásporas e das imigrações num elegante ghetto lisboeta;
- a substituição de uma agência capaz de actuar no terreno (em Bamako, Dakar, Luanda, Maputo, etc, numa dinâmica de intermediação e de trocas) por uma obra patrimonial de fachada, absorvendo e concentrando num espaço único a disponibilidade e os meios de múltiplos agentes públicos e privados descentralizados;
- a imediata dependência de intervenções urgentes e de resposta a necessidades locais, em África e nos bairros portugueses, em relação a um projecto de uma estrutura oficializada e central, cara e pesada;
- a inadequação do local apontado, de adaptação improvável (e caríssima) à instalação de um qualquer espaço público com ambições de dinamismo cultural;
- um provável entendimento restritivo da arte africana contemporânea a partir de uma lógica de cooptação pelos mercados dos países dominantes, ou de "um stablishment artístico etiquetado como poscolonial, composto por funcionários étnicos ou multiculturais" (como diz Jean-Loup Amselle em "L'Occident Décroché, Enquête sur les postcolonialismes", Stock, 2008;
- a sobreposição deste novo projecto faraónico - que excede tudo o que sonhou ser o voluntarismo carrilhista - a uma rede de museus muitíssimo carenciada, a outros organismos com interesses de programação na área da arte africana contemporânea e também ao Instituto Camões, que foi conseguindo, com poucos meios, estruturar políticas de trocas culturais.
(À hora do jantar oficial de lançamento da coisa, aonde não quis ir)
Posted at 19:27 in 2008, Africa, africa.cont, cidade, CML, Lisboa, lusofonia, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (3)