aliás, ele está acima de tudo e todos. Interessa-se por ele próprio e pelo que lhe interessa. É auto-referencial, tautológico e certamente autista (ou, vá lá, Asperger?), e, como é natural, inteligente, mas não vou tentar confirmar se continua arguto e brilhante (seria?), porque nunca tive paciência para o ler, nem necessidade de o ler. Não será agora a 1ª vez. Fiz uma exposição com ele, como co-comissário (em parceria com a Lúcia Marques), e correu bem. Um dia cheguei à Culturgest e ele tinha feito alterações ao catálogo e queria ocupar-se de tudo. Disse-lhe que não podia ser e ele retirou. Era uma exposição que ele herdara, o Xana. Certamente uma coisa muito inferior àquilo que aprecia, e que eu não aprecio. Vou lá de ano a ano, a ver se melhorou, mas os diques continuam a proteger o seu feudo nos Países Baixos. E vou ver artistas que considero, e que ele sempre maltratou ou desorientou: o José Loureiro e o João Queiroz.
No Facebook comunica-se, bem ou mal. Comunica-se socialmente, o que não faz dele FB um OCS mas outra coisa, nova, útil e perigosa, aliciante e enfadonha, etc. Uma coisa viva, e não inerte como as obras de arte e não-arte que ele aprecia.
Adiante. Noto que o diálogo no FB começou comigo e acaba comigo (não é raro), por via da colaboração do Xana. O resto foi falatório. Fica transcrito para que se guarde a excelsa escrita do grande comissário W e a memória do diálogo sobre alguém acima de toda a crítica. (Por acaso, tinha escrito hoje no FB que a crítica de arte acabou por determinação de Bruxelas e do G20 devido à engenharia social aplicada à alteração e rarificação do mercado de trabalho. Não se pode dizer que nem todos são artistas embora tudo possa ser arte.
A partir daqui é dele ou transcrição dele:
Caríssimos,
Ontem, certa pessoa depositou em cima da minha mesa de trabalho, com ar muito divertido, umas folhas com a reprodução de uma conversa a várias vozes que se derramou no Facebook a pretexto de uma afirmação que eu teria feito acerca da crítica da arte e que me é atribuída num artigo da Inês Nadais, no jornal Público, escrito a propósito do vigésimo aniversário da Culturgest.
Como não uso, nunca usei, nem faço tenção de usar o Facebook, e como o assunto envolve a Culturgest, achei que o e-mail (a partir do meu endereço electrónico de trabalho) seria um veículo válido para um esclarecimento (a maioria dos participantes na conversa figura na minha lista de contactos); achei também que partilhar com um número mais alargado de pessoas aquele episódio e este esclarecimento poderia ajudar à boa disposição – se a leitura do falatório provocar, como me provocou a mim, sonoras gargalhadas, então tanto melhor.
Esperar que este e-mail tenha algum suplemento didáctico, isso já me parece wishful thinking. Não se pode ter tudo.
É sabido que o que se escreve (sobretudo nos jornais) é verdade, mas sucede que a citação no jornal Público, que suscitou a indignação de Luísa Soares de Oliveira e desencadeou tão eloquente falatório, não corresponde ao que eu disse.
É sabido que o que se escreve (sobretudo nos jornais) é verdade, mas não deixa de ser interessante constatar como isso é frequentemente naturalizado, dado por adquirido, no caso em apreço por uma “crítica de arte” que deveria conhecer melhor (e no mínimo pôr em dúvida) os mecanismos e processos de edição jornalística.
Foi longa a minha conversa telefónica com a jornalista Inês Nadais (quem me conhece sabe que falo pelos cotovelos), era escasso o espaço disponível no jornal para o artigo (e para citações), e muito reduzido o tempo para a jornalista editar as minhas declarações. Nas parcas citações que me são atribuídas o que eu digo surge truncado e/ou descontextualizado – em palavras mais simpáticas, sintetizado.
Para quem não teve o prazer de acompanhar o falatório, ou mesmo nele participar, reproduzo-o a seguir a esta missiva.
Vamos então ao esclarecimento:
O que eu disse à Inês Nadais na referida conversa telefónica (e recorro à minha memória para me parafrasear) foi o seguinte: face aos cortes no orçamento das exposições e aos constrangimentos daí decorrentes, não sobrava outra alternativa que não fosse redefinir estratégias de programação e adoptar maior flexibilidade táctica a esse respeito, desde logo reduzindo o volume e o ritmo de actividade. E dei como exemplo categórico o facto de se ter interrompido o programa de exposições na galeria da Culturgest no Porto, transformando este espaço numa livraria de arte e reservando apenas uma sala para situações expositivas ou para a apresentação de obras, consoante as possibilidades oferecidas pelo orçamento. Não se pode caçar com cão, caça-se com gato, foi uma expressão que usei a propósito. Acrescentei que esta solução (de recurso) não nos envergonhava, muito pelo contrário, pois considerávamos que a livraria de arte, que nasceu junto às galerias de exposições da Culturgest em Lisboa, em 2011, é um projecto de enorme relevância no contexto cultural e artístico português, tendo uma função (didáctica) muito importante a desempenhar também no Porto. E rematei este ponto da conversa dizendo que, de qualquer modo, já há algum tempo que me vinha questionando sobre a racionalidade económica de fazer um programa de exposições na Culturgest do Porto, sobre o sentido de despender uma parte significativa do orçamento e muito trabalho a organizar exposições que tinham muito pouco público e do qual não só os media e o jornalismo cultural em geral, mas também os críticos de arte, se alheavam desde há vários anos – pus, naturalmente, a ênfase na demissão dos “críticos de arte” relativamente às suas responsabilidades.
Parentesis: a questão da deserção (demissão) da crítica de arte diz respeito sobretudo à necessidade de um debate no espaço público acerca da arte, e não tanto à sua influência sobre os fluxos de público.
Não deixa de ser, no mínimo, curioso que seja Luísa Soares de Oliveira a enfiar uma carapuça imaginária mas que lhe assenta na perfeição, uma vez que a “crítica de arte” em questão se remeteu ao silêncio relativamente às exposições na Culturgest, sejam elas em Lisboa ou no Porto, desde que escreveu um artigo ensandecido no jornal Público, no Verão de 2008, denegrindo a exposição retrospectiva (e o trabalho) de Willem Oorebeek, e aproveitando a embalagem para dizer o que lhe ia na alma ou nas tripas em relação ao programa de exposições da Culturgest por mim elaborada. Um enternecedor voto de silêncio, quase tão purificador quanto o voto de castidade.
Não gostaria de me alongar demasiado e abusar da vossa paciência, mas antes de vos deixar com a prosa no Facebook, e para que não restem dúvidas acerca da minha posição relativamente à crítica de arte em Portugal, reproduzo as minhas respostas a duas perguntas simples que me foram endereçadas pela Revista4 e publicadas nessa revista há uns meses:
“R4 – Enquanto curador e programador de exposições de arte contemporânea, que lugar confere à crítica de arte feita em Portugal nos últimos 15 anos, e de que forma entende a relação entre exposição e recepção crítica na produção do seu trabalho?
“MW – Nos últimos quinze anos, a crítica de arte em Portugal tem tido um lugar (ou tem desempenhado um papel) insignificante. Pior do que isso, nos últimos anos a crítica de arte em Portugal passou de insignificante a inexistente.
“Como se depreende da resposta anterior, e com grande pena minha, a relação entre exposição e recepção crítica (em Portugal) na produção do meu trabalho tem sido nula.”
Daqui um bem hajam dirigido a todos os entusiastas do Facebook!
Miguel
Luisa Soares de Oliveira
4/10
Diz o Miguel Wandschneider na entrevista que dá hoje no Público à Inês Nadais, a propósito dos 20 anos da Culturgest, que o espaço do Porto foi reconvertido em livraria de arte devido "ao total desinteresse da crítica, logo dos públicos". Ah, como é bom, e como deve ser reconfortante culpar a critica de tudo o que de mal acontece! Tirando isto, que não interessa a ninguém, a ligação que o MW faz entre críticas e públicos é muito interessante e tem que se lhe diga. Será que a crítica (na imprensa; suponho que ele está a referir-se a isso) condiciona efectivamente os públicos? estou aqui a lembrar-me de casos de sucesso de exposições que não precisaram da crítica para nada, e que mesmo com críticas negativas (e poisitivas) tiveram milhares (centenas de milhares até!) de visitantes. Acho que o MW nos está a dar um poder que não temos, nem queremos ter. E penso que a divulgação, tanto como a crítica, passa hoje por canais que não se podem ignorar. O Facebook, como o Twitter e os blogs, são imprescincíveis na formação de um gosto, um público, uma opinião crítica. Mais do que isso, a capacidade de estabelecer ou de se integrar numa rede social de cumplicidades é fundamental para a aceitação dos projectos próprios. Gostava que o MW fosse tão lesto a interrogar-se sobre estes assuntos como o é a atacar os críticos de arte.
Dou um exemplo que vou buscar propositadamente fora do círculo das artes plásticas: o do Jorge Silva Melo que quase todos os dias nos fala aqui dos seus Artistas Unidos, sempre educadamente e com sabedoria. É impossível não saber o que lá se passa, não ter vontade de ir ver, não descurarmos uma notícia que saia no Ipsilon ou no Cartaz do Expresso a propósito do espectáculo que ele tem em cena.
Nunca o vi acusar a crítica de não ter públicos. Podia falar do Alexandre Pomar, que faz o mesmo para a sua A Pequena Galeria, mas como já disse não quero entrar pelas artes plásticas. O Jorge chega.
Alexandre Pomar Na livraria da Culturgest de Lisboa encontrei alguns livros admiráveis, com preços muito favorecidos.
4/10 às 15:09 • 2
Luisa Soares de Oliveira ora estás a ver, não é nenhum desprimor transformar um espaço de exposições em livraria de arte...
4/10 às 15:10 • 2
Ana Pérez-Quiroga Acabei de fotografar esta nova versão do espaço em livraria. Mas ainda tem um pequeno espaço expositivo em cima e claro os cofres em baixo.
4/10 às 15:13 através de telemóvel • 2
Colaco Tomas Se hovesse aqui o público iria le-lo, talvez.
4/10 às 15:20 • 1
Nuno Nunes-Ferreira não querendo dar razão a ninguém acho que a critica muito raramente sai de Lisboa para ir ao Porto ou a outras paragens. mas isto é uma opinião pessoal...
4/10 às 15:29 • 4
Maria de Morais humildemente parece-me que tantos uns como outros, gostam de ter a papinha feita... mas bon, c'est juste une idée
4/10 às 15:52 • 1
Colaco Tomas ui ui, a conversa está quentinha.
4/10 às 15:56 • 1
Maria de Morais ou nao estivesses na bela cidade d'Aix en Provence, je crois que je vais y vivre un temps incertain
4/10 às 16:00 • 1
Colaco Tomas viens, il fait beau en plus!Ver tradução
4/10 às 16:01 • 1
Luisa Soares de Oliveira pois sai, Nuno... é que há cada vez menos pessoas que compram jornais, logo menos leitores, logo orçamentos mais reduzidos, para viagens e estadias ... porque é que o Porto não produz um crítico de qualidade, pergunto eu?
4/10 às 16:01 • 2
Luisa Soares de Oliveira boa ideia, maria, deixa-te estar por aí.
4/10 às 16:01
Maria de Morais ??
4/10 às 16:03 • 1
Colaco Tomas Eu acho que a Luísa ficou a achar que estavas aqui em Aix....é isso?
4/10 às 16:04 • 1
Maria de Morais nao percebi, ou nao gostou do meu post
4/10 às 16:05 • Editado • 1
Luisa Soares de Oliveira não estás em Aix, Maria?
4/10 às 16:05 • 1
Colaco Tomas eheh, não. pelo menos aqui nesta rua não a vejo.
4/10 às 16:05 • 1
Luisa Soares de Oliveira então quem é que está em Aix? mas que confusão
4/10 às 16:06 • Editado
Maria de Morais até quando?
4/10 às 16:12 • 1
Maria de Morais este ano nao ha nenhuma galeria portuguesa na Fiac,
4/10 às 16:13 • Editado • 1
Alexandre Alves Barata felizmente, o artista está sempre em auto-gestão !
4/10 às 16:19 • Editado • 3
Jorge Silva Melo Auto artista!
4/10 às 17:11 através de telemóvel • 2
Maria de Morais "Auto gestao" faz me pensar a umas conversas com Nicolas Bouriaud sobre a economia do artista e esta aos impasses antropológicos que Richard Sennett interroga - Comment poursuivre des fins à long terme dans une société qui ne connaît que le court terme ?
Comment entretenir des relations sociales durables ? Comment un être humain peut-il se forger une identité et construire un itinéraire dans une société faite d’épisodes et de fragments ? Poderia ser uma porta aberta para um ciclo de artistas que questionam o lugar do corpo humano nestes ambientes “desertos” ou para aqueles que decidiram de quebrar o circulo establecendo uma outra economia num mundo que nao os tem em conta
4/10 às 18:10 • 2
Luis Silveirinha Muito havia a dizer sobre estes assuntos. A critica é importante?O destaque num jornal como o Publico ou o Expresso é importante? Talvez. A obra vai-se continuando a fazer independentemente das estrelas e das opiniões, agora é curioso e é verdade que há artistas que recebem sempre espaço para as criticas e outros não. Há artistas que realizam uma exposição e que se possivel nesse mesmo dia vêm uma critica - destaque sair. As pessoas ligam? O publico liga a isso? Não! O especializado talvez, os colecionadores, as instituições, os curadores....Os criticos têm o poder de divulgar, de chamar publico, sobretudo de chamar a atenção para os pares. Penso eu!
4/10 às 18:51 • 3
Manuel Graça Dias Eu acho que a crítica raramente vai a Aix!
4/10 às 19:10 através de telemóvel • 2
Luisa Soares de Oliveira Manel, caríssimo Manel, tens toda a razão. É uma injustiça. São sempre os mesmos que vão.
4/10 às 19:16 • 3
Luís Brilhante Tanto ruído, mas afinal é apenas uma opinião a do MW.
Resta é saber quem faz um trabalho sério com a devida distância daquilo que admira. E aí sim é preciso ter cautela, tem de se estar sempre com a objeção pronta, a ver se é demolível (o que se admira), que afinal não tem qualquer utilidade. Creio ser este o exercício fundamental e o caminho a trilhar no famoso triângulo - critica, público e artista.
4/10 às 19:26 • 2
Susana Neves Se uma crítica revelar informação interessante e for honesta (não dizer maravilhas de uma nulidade ou não desvalorizar o que tem valor) e se o critico conseguir que o jornal valorize com boas imagens o trabalho do artista, se for visualmente interessante, penso que algumas pessoas se mobilizam. Já me aconteceu quer por ter escrito quer por terem escrito sobre o meu trabalho. Mas não é decisivo.
4/10 às 20:45 • 2
Susana Neves Penso que a falta de público tem muitas vezes a ver com a fealdade e o vazio do que é proposto como arte. Mas também é verdade que o grande público vai ver sobretudo o que é mediático, e isso é também um efeito do desprezo pela multiplicidade de linguagens artísticas preconizada pelos media. Portanto, a falta de público é uma questão complexa.
4/10 às 20:57 • Editado • 1
Jorge Silva Melo Ai. Luísa, no PUBLICO, o teatro que fazemos - fraquito, bem sei, dantesco no sentido do Júlio Dantas, académico... - deixou de aparecer há algum (muito) tempo - desde que lá assomou quem impunemente afirma - e publica, todo lampeiro - que PLAUTO é um clássico GREGO. (Santa Ignorancia, santíssima).
4/10 às 20:56 • 6
Joao Silverio em que passo do universo estará agora a memória de Diderot?
4/10 às 21:17 • 3
Jorge Silva Melo ah...
4/10 às 21:17 • 2
José Batista Marques Factualmente, a sociedade líquida da pós-modernidade começará cada vez mais a definir as suas pequenas unidades de sobrevivência.
4/10 às 22:37 através de telemóvel • 2
Manuel Graça Dias Essa da "sociedade líquida" é copos, não é?
5/10 às 0:24 através de telemóvel • 5
Raquel Ribeiro Eu acho lindo é que tu ainda dizes o Cartaz do expresso
5/10 às 1:03 através de telemóvel • 2
José Batista Marques Caro Manuel, em rigor: sex&drugs&rock&roll + copos
5/10 às 9:12 através de telemóvel • 2
Luisa Soares de Oliveira vocês são terríveis. Jorge Silva Melo, espero que não estejas a referir-te ao meu querido Tiago Bartolomeu Costa.
5/10 às 9:44 • 1
Jorge Silva Melo esse querido precisa de receber umas boas aulas de introdução ao teatro, Luísa...
5/10 às 10:08 • 2
Luisa Soares de Oliveira que tolice, Jorge Silva Melo... ele que até te dá tanta atenção...
5/10 às 10:31 • 1
Jorge Silva Melo Luisa, queres uma lista de erros de palmatória? farei um workshop, vais ver...
5/10 às 10:35 • 1
Luisa Soares de Oliveira não, Jorge, tinha que começar pelos meus, que são às centenas.
5/10 às 10:35 • 2
Jorge Silva Melo ... mas já tenho milhares...
5/10 às 10:38 • 1
Luisa Soares de Oliveira ... além de que sou amiga do Tiago, e logicamente não quero que ninguém venha dizer mal dele no meu mural.
Bem, estou a ver que afinal, tens tanta pedra no sapato contra a crítica de teatro quanto o MW, de quem eu pensava que tu eras bem diferente... a minha conversa acima cai por terra.
5/10 às 11:40 • 1
Jorge Silva Melo olha... não me magoa com a queda...
5/10 às 11:41 • 1
Alexandre Pomar A conversa não me parece estimulante, e vamos tendo de calar muita coisa. Mas lembro-me de um recente texto que me fez escrever para o Público e tb no fb, escandalizado com um erro óbvio e grave. Depois o Jorge assinalou mais 3 ou 4 nas mesmas páginas. Claro que sabemos que já não há revisores, nem copydesks, nem editores que leiam e corrijam ou interpelem. Agora é sem rede - e ao fim de algum tempo sem leitores.
5/10 às 13:19 • 4
Transboavista Art Edifício A crítica a que o MW se refere e gostaria de ter, não me parece ter leitores e, consequentemente não tem poder próprio! É verdade, a morte traz sempre uma desculpa.
5/10 às 15:34 • 2
Alexandre Alves Barata repito o que Alexandre Pomar disse: "... e vamos tendo de calar muita coisa" , porque o debate de ideias está a desaparecer.. ou talvez nunca tenha sobrevivido ao "estado novo"...